O Rito Bizantino - Parte II

Primeira Parte da Divina Liturgia


Preparação das oferendas ou Matéria do Sacrifício (Proskomídia)

Esta primeira parte se faz secretamente, dentro do santuário, sem a participação dos fiéis, simbolizando assim os 30 anos de vida oculta que o Salvador passou preparando-se para o seu ministério público.

Após ter rezado as orações chamadas "Oração da porta", porque se fazem diante da "porta santa", que dá acesso ao santuário, e dos ícones do Salvador e da Mãe de Deus, o sacerdote entra no santuário, paramenta-se, lava as mãos e se dirige para o altar pequeno, chamado "Altar da Preparação", ou Proskomídia, e situado à esquerda do altar-mor. Sobre ele acham-se já colocados os objetos que vão servir para o sacrifício, a saber: o cálice, a patena, o asterisco, os véus (grande e pequenos), o pão, a água e o vinho e uma pequena espátula (em forma de lança).

O pão do sacrifício só pode ser de farinha de trigo pura e com fermento. Chama-se "prósfora", isto é, oferenda, oblata , porque eram os fiéis que o ofereciam para o sacrifício. Antigamente usavam-se 5 pães, mas hoje um só é suficiente. De forma redonda, leva no meio a marca de um selo quadrado com as abreviações das palavras gregas que significam: "Jesus Cristo triunfa". Esta parte carimbada formará a hóstia chamada "Cordeiro", para lembrar o cordeiro pascal, figura de Cristo, o Cordeiro de Deus que veio à terra para tirar o pecado do mundo.

Com a lança o sacerdote tira da prósfora o "Cordeiro" que põe no meio da patena; e derrama vinho e água no cálice. Depois corta uma partícula (geralmente triangular, chamada "panaghia"), em honra à Virgem Maria, Mãe de Deus; e partículas em honra dos Santos e em intenção dos vivos e dos mortos; cobre o cálice e a patena com os véus; incensa as oblatas e recita a oração da oferenda que cada um dos concelebrantes deve rezar, mesmo se não participou da preparação da matéria do sacrifício.


Simbolismo da Proskomídia


A Proskomídia simboliza a manjedoura onde nasceu o Salvador. Mas, como ele nasceu para ser vítima, o sacerdote, representando o Espírito Santo realizando o mistério da Encarnação, extrai o Cordeiro do pão como do seio virginal da Santíssima Mãe de Deus, proferindo as palavras do profeta Isaías, que o mostrava vítima de propiciação para nossos pecados:

"Como uma ovelha foi levado ao matadouro. E como um cordeiro sem mancha diante do que o tosquia não abriu sequer a sua boca. Na sua humildade, o seu julgamento foi exaltado. Quem contará à sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra" (Is 3,7s.)

E, entalhando a prósfora em forma de cruz, diz:

"É imolado o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, para a vida e a salvação do mundo".

Jesus ofereceu-se em oblação desde o primeiro instante da sua vida terrestre: "Eis que venho para fazer a tua vontade"; esta oblação teve sua coroação no Calvário.

Nascimento e morte do Salvador são duas fases de um mesmo ato. Por isso a Liturgia Bizantina considera também a Proskomídia como o lugar onde se imola em figura o Cordeiro. O vinho é misturado com água, porque do lado do Salvador saiu sangue e água. O sacerdote faz esta mistura depois de abrir com a lança o lado direito do Cordeiro, em cima da palavra IS., dizendo o versículo de São João:

"E um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. Aquele que viu deu testemunho, e seu testemunho é verdadeiro ".

A Mãe de Deus é figurada pela partícula especial colocada à direita do Cordeiro como se estivesse no Calvário. Colocando esta partícula, o sacerdote repete o versículo do salmo 44 que diz que o lugar da rainha é à direita do rei:

"A Rainha pôs-se à vossa direita, envolta num manto bordado a ouro.

À esquerda do Cordeiro são colocadas em 3 filas, 9 partículas em honra às legiões de santos: os Anjos; São João Batista, o Precursor; os Profetas; os Apóstolos; os Santos Bispos e Padres da Igreja; os mártires; os santos ascetas; os anárgiros, São Joaquim e Ana, avós de Deus; o Padroeiro da Igreja, São João Crisóstomo ou São Basílio, autores da Liturgia que vai ser celebrada. Por baixo do Cordeiro colocam-se partículas em memória dos vivos e dos mortos: especialmente daqueles pelos quais a missa será celebrada.

E assim, acham-se reunidos em redor do Cordeiro os seus membros místicos que formam a Igreja triunfante no céu, a Igreja militante na terra e a Igreja padecente no purgatório. Voltando a ver no altar da pregação a gruta de Belém e, na patena, a manjedoura, o sacerdote coloca em cima desta um asterisco simbolizando a estrela que guiou os magos e "parou sobre o lugar onde estava o menino". Depois cobre as oblatas com os véus para lembrar as faixas com as quais Maria envolveu o corpo do Menino Jesus recém-nascido na manjedoura; e os lençóis que serviram para envolver o corpo do Salvador morto após a descida da cruz. Enfim, incensa as oferendas para lembrar os presentes dos Reis magos e também os aromas com os quais as santas mulheres (miróforas) embalsamaram o corpo do Redentor.

“O Deus, ó nosso Deus, que enviastes Nosso Senhor Jesus Cristo, o pão celeste, o alimento do mundo inteiro, como salvador, Redentor e Benfeitor, para nos abençoar e nos santificar; abençoai esta oferenda... e lembrai-vos dos que a ofereceram e daqueles pelos quais foi oferecida e guardai-nos irrepreensíveis no cumprimento dos vossos divinos mistérios".". 

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