O Rito Bizantino - Parte III

Segunda Parte da Divina Liturgia

                                                  Liturgia dos Catacúmenos na Igreja Bizantina Ucraniana de S. Elias

Liturgia dos Catecúmenos ou Liturgia da Palavra
Esta parte compreende:
Uma longa oração dialogada chamada Grande súplica (grande sinapti) ou irinica.
Cantos de salmos, antífonas ou típica, com duas pequenas sinaptes.
A pequena entrada ou procissão com o livro dos Santos Evangelhos.
Hinos próprios do dia (tropário).
O Hino do triságion: Santo Deus...
A Epístola com seu prokímenon e Aleluia.
O Evangelho.
O ectení ou súplica insistente.
Oração pelos catecúmenos (e despedida dos mesmos).
Até a procissão com o Evangelho esta parte continua simbolizando a vida oculta de Jesus. Da procissão do Santo Evangelho até a procissão do ofertório, recorda-se a vida pública de Jesus até sua paixão.

O Incenso

O Sacerdote termina a preparação das oferendas e começa a Liturgia dos Catecúmenos, incensando os dois altares, os ícones, a Igreja e os fiéis. Este é o primeiro grande incensação. O incenso queimado pelo fogo transforma-se em fumaça que sobe ao céu em forma de nuvens, enchendo o ambiente da fragrância de seu aroma. Sua destruição pelo fogo faz dele um holocausto e seu aroma é o fruto desta destruição. 

Assim os discípulos de Cristo devem oferecer-se em holocausto a Deus e irradiar em volta o bom odor espiritual de sua vida cristã. A fumaça do incenso que se eleva para o alto figura a oração pela qual a alma se eleva a Deus. Por isso ouvimos o Salmista (140,2) clamar: "Que minha oração, Senhor, suba até vós como o incenso" e vimos no livro do Apocalipse (5,8) as orações dos Santos no céu representadas por taças de ouro cheias de perfumes que os 24 anciãos revestidos de branco, oferecem ao Cordeiro de Deus que está de pé no meio do trono, como se tivesse sido imolado. Assim, o incenso cria desde o início da Divina Liturgia uma atmosfera celeste lembrando ao sacerdote e aos fiéis a necessidade de se prepararem para o sacrifício, para serem, como diz o Apóstolo, "o bom odor de Cristo", pelo qual difunde em toda a parte o perfume de sua doutrina" (2Cor 2,14-15).

Depois de cobrir as oferendas com os véus, o sacerdote inclina-se 3 vezes diante delas e as incensa, em sinal de adoração para lembrar a adoração dos reis Magos ao Menino Jesus e os presentes (ouro, incenso e mirra), que lhe ofereceram. Dirigindo-se em seguida ao altar-mor, incensa-o nos quatro lados, rezando secretamente: "ó Cristo, estáveis de corpo no sepulcro e com a alma nos infernos, e, como Deus, no paraíso com o ladrão; e no trono com o Pai e o Espírito Santo, ocupando todo lugar, vós o ilimitado".
Com isto recorda:

O lugar simbolizado pelo altar, isto é, o Gólgota e o sepulcro, onde o Filho de Deus encarnado morreu para a redenção do gênero humano;

Os infernos (ou Mansão dos mortos) (aqui no sentido de limbo), onde desceu depois de morto, para salvar os justos que morreram, antes dele, e estavam à sua espera. Por isso havia habitualmente túmulos debaixo dos altares:

O Paraíso ou Céu, onde fez entrar o bom ladrão;

O trono celeste, no qual sentou-se glorioso, à direita do Pai.

Prosseguindo, incensa os ícones, a Igreja e os fiéis.

O sacerdote incensa o altar porque é o trono de Deus; os ícones, porque o representam e representam seus santos; os fiéis, porque são suas criaturas feitas à sua imagem e semelhança; os objetos de culto porque consagrados a ele; e a Igreja porque é sua casa. Incensando os fiéis no início da Liturgia, o Sacerdote lembra um antigo costume na vida doméstica de todos os povos do Oriente, que ofereciam ao hóspede, desde a sua entrada em casa, com que se lavar e se perfumar (ver Lc 7,44-47). Assim o sacerdote, em sua qualidade de ministro de Deus, incensa o rico e o pobre sem distinção, dando-lhes as boas-vindas a este banquete espiritual, a esta ceia mística, como hóspedes e visitantes convidados a serem comensais do Rei celeste.

É bom também observar que, cada vez que Cristo vai aparecer (ou se manifestar) durante o sacrifício, sua aparição é precedida pelo incensação: no começo da missa, no evangelho e no ofertório. Nestes três momentos que lembram a aparição de Cristo (no primeiro, como recém-nascido; no segundo, como pregando a Boa-Nova; e, no terceiro, como sofrendo por nossa causa), a Igreja convida-nos a recebê-lo com perfumes, e a encher nossos corações do aroma dos bons sentimentos de caridade, fé, humildade e pureza.

"Bendito seja o Reino do Pai... "

Após ter beijado o Evangelho e o Altar, o sacerdote segura o livro dos Evangelhos com as duas mãos, faz com ele uma cruz em cima do Antimênsion, e diz em voz alta:

"Bendito seja o reino do Pai, do Filho e do Espírito Santo, agora..."

O Evangelho é o Verbo, isto é, a Palavra de Deus e sua Boa-Nova. Nele os Evangelistas nos transmitem as verdades da nossa fé reveladas pelo Verbo encarnado. Por isso, liturgicamente, fica sempre colocado em lugar de honra, em cima do Altar, como num trono. Só cede este lugar ao Verbo de Deus feito homem, quando este, a partir do ofertório até após a comunhão, for ali levado para ser imolado. A Igreja, templo e fiéis, é o reino de Deus, isto é, sua morada e seu povo. Abençoando simbolicamente, em forma de cruz, o universo pelos quatro pontos cardeais, o sacerdote pede que este reino de Deus, por meio de sua palavra, seja bendito e propagado pelo mundo inteiro, para a glória da Trindade Santa. A Assembléia, apoiando o pedido do sacerdote, clama: Amém, assim seja (Amém, é palavra aramaica, que significa: assim seja).

"Irinica"

Em seguida, o sacerdote convida os fiéis a repetir as invocações que a Igreja dirige incansavelmente a Deus, desde os primeiros tempos da sua existência. Convida-os inicialmente a rezar em paz: "Em paz oremos ao Senhor"; e a pedir a paz, não qualquer paz, mas a paz que vem do alto, a paz com Deus, com o próximo e com sua própria consciência, condição indispensável para que a oração seja atendida. Por causa desta insistência "na paz", esta primeira oração dialogada foi chamada irinica (do grego: irini = paz).

Os cristãos devem pedir esta paz não só para si, mas também para o mundo inteiro. Por paz não se entende somente a ordem, o sossego, a tranqüilidade e o bem-estar temporais, mas sobretudo a felicidade sobrenatural proveniente da estabilidade das Santas Igrejas de Deus e da união de todos na fé e na caridade. A oração se faz especialmente pelos fiéis presentes no templo, que nele se comportam com fé, devoção e temor (isto é, respeito) de Deus; pelo pastor e pelo clero da diocese; pelos governantes e seus auxiliares; pelo exército; por todos os povoados do país (grandes e pequenos, cidades e aldeias), especialmente pela cidade onde se celebra o sacrifício; pela salubridade do ar, pela abundância dos frutos da terra necessários à vida, e por tempos pacíficos; pelos viajantes por mar, terra e ar; pelos que sofrem e para que todos sejam livres de aflição, perigo e necessidade.

"Kyrie eleison"

A cada um destes pedidos, a Assembléia dos fiéis, dominada, dizem "As Constituições Apostólicas" do século IV, pela voz das crianças, clama Kyrie eleison, Senhor, tende piedade. Convém aqui ressaltar esta referência às vozes infantis participando, pela fácil repetição, do Kyrie eleison, ao conjunto da oração comum. Assim, desde o séc. IV manifesta-se a preocupação pela participação ativa das crianças no Santo Sacrifício. O próprio São João Crisóstomo insiste, em suas homilias, sobre esta intervenção das crianças inocentes, colocadas à frente da assembléia (diz ele), na oração dialogada, para solicitar a misericórdia de Deus por seu povo (d. Le rôle du diacre, p. 14 e 40). Em vez de ficar conversando ou brincando durante a Divina Liturgia, as crianças devem, portanto, prestar atenção e responder, juntamente com os adultos, aos pedidos feitos pelo sacerdote. Deus gosta de ouvir sua voz, mesmo desafinada, e se interessa por elas. Não disse ele aos apóstolos: "Deixai vir a mim as crianças?"

O Kyrie eleison é a oração que mereceu elogio do próprio Cristo, na parábola do Fariseu e do Publicano. Não devemos, pois, cansar-nos de repeti-Ia. É o grito do homem humilde, pecador e necessitado que implora a misericórdia de seu Senhor. E Deus, diz-nos o Salmista, "atende à oração dos humildes e não despreza a sua prece" (101,18).

Comemorando...

Para marcar a impotência de nossas orações, às quais faltam a pureza da consciência, a reta intenção e o ardor da fé e da esperança, o sacerdote, dirigindo seus olhares para a Mãe de Deus e os santos, convida os fiéis a comemorar, isto é, a recorrer àqueles que sabiam rezar melhor do que nós e que, agora, rezam por nós no céu; e a nos recomendar, nós mesmos, uns e outros e toda a nossa vida a Cristo, nosso Deus. Ao ouvir aqui o nome de Maria, os fiéis costumam fazer uma inclinação da cabeça em direção ao Ícone da Mãe de Deus, dirigindo-lhe uma das saudações seguintes: "A Ela, a mais nobre das saudações" ou "Em ti deposito toda a minha esperança", ou " Santíssima Mãe de Deus, salva-nos!". Esta saudação não consta nas rubricas, nem está exigida pelo sentido da oração, é antes uma jaculatória saindo espontaneamente do coração de filhos profundamente devotos à sua mãe. Fazem também uma inclinação em direção ao Ícone do Salvador, quando ouvem o nome de Cristo.

Atendendo ao convite do sacerdote e, em união com ele, a assembléia clama: a Ti, Senhor, isto é, Sim, nós nos recomendamos a Ti, Senhor.

O sacerdote termina esta série de súplicas pela glorificação da Santíssima Trindade, glorificação esta que, tal um fio de ouro ligando tudo, corre através da Liturgia, começando e concluindo cada ato e cada oração. Nesta glorificação o sacerdote exprime também os motivos que nos levam a ter confiança que nossos pedidos serão atendidos por Deus: Ele é poderoso, glorioso, misericordioso e amigo dos homens. A Assembléia em oração expressa sua adesão pelo "Amém", "assim seja".

Antífonas, Típica e Sinaptes

Entre a grande súplica da paz (grande sinapti ou irinica) e as duas súplicas pequenas (pequenas sinaptes) o coro ou o povo canta as Antífonas, as típicas e o macarismi (Bem-aventuranças).

Sinapti: A palavra sinapti equivale ao termo latino "collecta": nela o sacerdote recolhe, colige em uma fórmula comum as intenções principais de cada um e de todos os membros da Assembléia. Antigamente a grande sinapti ou irinica era repetida depois da 1 a e da 2a Antífona (e entre as orações pelos fiéis); depois a Igreja contentou-se com o primeiro e o último pedido, a comemoração da Mãe de Deus e dos Santos e a glorificação da Santíssima Trindade, para evitar a repetição cansativa.

Antífonas: São aclamações ou jaculatórias, cantadas pelo coro, em forma de estribilho e intercaladas entre os versículos de certos salmos, escolhidos de acordo com a festa que se celebra, e lidos pelo leitor no meio do coro. Aqui também antigamente lia-se o salmo inteiro; depois, para abreviar, contentou-se com 3 ou 4 versículos; e, em nossos dias, geralmente cantam-se somente as antífonas sem os versículos dos salmos.

Nos dias comuns da semana as antífonas são as mesmas; para as festas do Senhor e da Mãe de Deus, há antífonas e salmos próprios escolhidos de acordo com cada festa. A aclamação, porém, da primeira antífona é invariável para os dias comuns como para as festas: é um apelo à intercessão da Mãe de Deus: pela intercessão da Mãe de Deus, ó Salvador, salvai-nos.

Típica: Aos domingos, em geral, as duas primeiras antífonas são substituídas pelos salmos 102 e 145, respectivamente, chamados "típica", isto é, marcados; e a 3a pelas "bem-aventuranças" do Sermão da Montanha, conhecidas pela palavra grega que começa cada uma "Macarismi" ­"Bem-aventurados". É pena que as típicas e sobretudo os macarismi estejam sendo postos de lado: serviam tão bem para lembrar o que alguém chamou de "Carta Magna do Cristianismo", e para anunciar a aparição do Salvador como pregador da sua nova doutrina, a ser simbolizada pela pequena entrada: Bem aventurados os pobres, os que choram, os mansos, os misericordiosos, os puros, os pacíficos, os perseguidos...

O Monogenis (á Filho Unigênito). No fim da 2a Antífona ou do 2° Salmo das típicas, canta-se o hino: "Ó Filho Unigênito" (em grego o Monogenis). Este hino, composto provavelmente em Antioquia (pelo patriarca Sevério) e introduzido na Liturgia pelo imperador lustiniano 11 em 535 é de grande teor teológico: em poucas palavras, enuncia os mistérios fundamentais da nossa fé: a Santíssima Trindade, a Encarnação do Filho de Deus, a Redenção do gênero humano pela morte de Cristo na cruz; a maternidade divina de Maria e sua virgindade perpétua. Uns liturgistas consideram-no como uma profissão de fé para os catecúmenos como o Credo para os fiéis.

A Pequena Entrada

Enquanto o coro canta a 3ª Antífona ou as Bem-aventuranças, o sacerdote precedido pelo diácono segurando o Evangelho, e pelos acólitos segurando a cruz, as tochas e o turíbulo, desce do altar e sai, não pela porta Santa, mas pela porta lateral norte, atravessa em procissão a Igreja, passando no meio do povo, e entra no santuário pela porta Santa ou Real. Qual é o sentido desta procissão chamada a procissão do Evangelho ou "pequena entrada" para distingui-la da entrada do ofertório? "A entrada do Evangelho, diz São Germano, patriarca de Constantinopla, simboliza a vinda do Filho de Deus e sua entrada no mundo." O diácono, segurando o Evangelho, figura o Precursor que devia mostrar o Filho de Deus ao mundo. "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo", disse João Batista ao ver Jesus aproximar-se dele. O sacerdote representa Nosso Senhor Jesus Cristo vestindo a nossa natureza humana e descendo do céu (o santuário) sobre a terra (a nave), no meio dos homens. Os ceroferários precedem com tochas acesas, porque o Cristo é a luz do mundo "Eu sou a luz do mundo", e São João Batista foi qualificado pelo próprio Cristo como "lâmpada ardente e brilhante", da luz da qual os judeus quiseram gozar apenas por pouco tempo (10 5,35). A cruz que segue lembra o modo e o instrumento que Cristo escolheu para salvar os homens.

Os fiéis, considerando o Evangelho, levado pelas mãos de humildes ministros da Igreja, como o próprio Salvador aparecendo pela primeira vez em público para a sua pregação divina, ficam de pé e inclinam-se diante dele, porque, como diz São Paulo, "Quando Deus Pai introduz o seu Primogênito na terra diz: e todos os Anjos de Deus o adorem" (Hb 1,6).

A procissão pára no meio da Igreja, a uma pequena distância da porta Santa. O Sacerdote, inclinando a cabeça, pede secretamente a Deus, que estabeleceu nos céus, legiões e exércitos de anjos e arcanjos para o serviço da sua glória, que faça com que esses mesmos exércitos, unidos aos fiéis na glorificação da sua bondade, o acompanhem até o altar.

Antigamente, nas cerimônias oficiais profanas, um arauto anunciava a chegada do Imperador, clamando: "O Imperador!" para que todos os presentes se levantem e o recebam com respeito. Assim também, o diácono (ou o sacerdote) anuncia a presença do Verbo de Deus, sabedoria infinita e eterna, representado pelo Evangelho, clamando: "A Sabedoria!", e convida os fiéis a ficarem de pé por respeito.

A entrada dos justos no céu foi obtida pela Santa Cruz: o sacerdote benze as portas santas, em forma de cruz, e, elevando o Santo Evangelho, faz com ele no ar uma grande Cruz e canta: "Vinde, adoremos e prostremo-nos ante o Cristo!..." O povo repete a 2a parte do canto da entrada para manifestar que está de acordo com tudo o que foi dito e feito: - "Salva-nos, ó Filho de Deus..." Entrando no santuário pelas portas santas, o sacerdote recoloca sobre o altar o evangelho, que é a palavra da verdade e da vida.

Nota: Na liturgia pontifical, celebrada pelo bispo diocesano, o bispo se paramenta e permanece até a pequena entrada, sentado num trono colocado no centro da Igreja no meio do povo, representando Cristo que, pela encarnação, se fez homem e morreu no meio dos homens que vinha salvar, ouvindo-os e ensinando-os. Com a procissão do Evangelho, sobe ao altar.

Tropário

Terminada a procissão do Evangelho, sacerdote e diácono entram no santuário cantando o isodicon (ou canto de entrada), que o coro repete. Em seguida, cantam-se os tropários ou hinos do dia.

Os tropários são hinos ou composições poéticas sobre a festa do Senhor, da Mãe de Deus ou dos santos que a Igreja comemora naquele dia. Podem ser qualificados como a "pregação pelo exemplo precedendo a pregação pela Palavra". No domingo, dia do Senhor, comemora-se o ano todo a Ressurreição de Cristo. 

Por isso o primeiro hino a ser cantado é o "apolitikion da Ressurreição", segundo um dos oito tons litúrgicos, e que recorda este grande acontecimento, base e razão da nossa fé, visto que, como diz São Paulo aos Corintios: "Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã também a vossa fé" (lCor 15,14).

Nas festas do Senhor, da Mãe de Deus e dos Santos, os tropários enaltecem os mistérios da vida de Jesus e de sua Mãe, e as virtudes e feitos dos cristãos que seguiram os passos do Salvador renunciando a tudo neste mundo e sacrificando-se por ele até a morte. E cantam-se logo depois da entrada do Evangelho, justamente para nos apresentar o exemplo daqueles que puseram em prática os ensinamentos contidos neste mesmo Evangelho e assim mereceram entrar no reino dos céus, conforme disse Jesus a seus discípulos: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas. Aquele que crer e for batizado será salvo. Aquele que não crer será condenado" (Mt 16,15-16).

Esses hinos têm nomes diferentes de acordo com o lugar que ocupam e o assunto que desenvolvem na composição poética, chamada "Cânon", da qual fazem parte: Tropário, Apolitikion, kondakion, Hirmos...
As grandes festas do ano são anunciadas, aos domingos, com várias semanas de antecedência, pelo kondakion final; e seus tropários continuam a ser cantados durante a oitava que segue a festa. O kondakion do Padroeiro da Igreja é sempre o penúltimo.

Triságion

"Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal, tem piedade de nós."

Existe uma lenda relativa à origem deste hino do triságion (três vezes santo) e a sua introdução na liturgia. É a seguinte: No século V, no tempo do Patriarca São Prodo, sucessor de São João Crisóstomo, a cidade de Constantinopla foi abalada por terremotos durante quatro meses. Um dia, enquanto o povo, dominado pelo medo, implorava fora das muralhas a misericórdia divina, gritando Kyrie eleison (Senhor, tem piedade), um menino foi arrebatado aos céus e lá ouviu os anjos cantarem o triságion, diante do trono de Deus, e uma voz ordenando ao bispo que organizasse procissões nas quais se cantaria esse hino. Voltando à terra, o menino contou o que viu e ouviu. O patriarca mandou fazer de acordo com a ordem recebida, e o terremoto parou. Este hino se reza também no início e no fim de todos os ofícios públicos.

A Igreja bizantina sempre considerou este hino dirigido à Santíssima Trindade, cada uma das partes referindo-se a uma das 3 pessoas divinas:
Santo Deus, Pai eterno
Santo Forte, seu Filho, que é sua força e seu verbo criador.
Santo Imortal, seu Espírito Santo, isto é, o amor que não morre, e sua vontade sempre viva e vivificante.
Para comprovar esta atribuição temos o fato seguinte: Em 470, um patriarca de Antioquia (Pedro, o Pisoeiro) acrescentou após "Santo Imortal", que foi crucificado por nós. Este acréscimo provocou grandes discussões teológicas e acabou sendo proibido, com o seguinte argumento: Santo Imortal refere-se ao Espírito Santo; ora, quem foi crucificado por nós foi o Filho: portanto, este acréscimo não se pode fazer depois da terceira parte.

Esta atribuição é claramente expressa no hino seguinte:
"Vinde, povo,
adoremos a Divindade em três pessoas:
o Pai no Filho com o Espírito Santo.
Porque o Pai, de toda eternidade
gera um Verbo co-eterno e co­reinante
e o Espírito Santo está no Pai,
glorificado com o Filho, poder único,
única essência, única divindade;
é ela que adoramos quando dizemos:
Santo Deus,
que criou tudo pelo Filho
com a colaboração do Espírito Santo;
Santo Poderoso,
por quem conhecemos o Pai
e por quem o Espírito Santo veio ao mundo;
Santo Imortal, Espírito
Consolador que procede do Pai e repousa no Filho:
Trindade Santa, glória a Ti".

Pentecostes, Grandes vésperas

Pelo mesmo motivo ele se canta três vezes seguidas; e nas Divinas Liturgias Pontificais cinco vezes: as três primeiras vezes em louvor ao mistério da Santíssima Trindade; e as duas outras em honra do mistério da Encarnação, isto é, a existência de duas naturezas em Cristo.

Vamos dar mais detalhes sobre o canto do triságion nas Liturgias Pontificais do triságion: nas Liturgias Pontificais usam-se o dikírion e o trikírion, que são dois castiçais pequenos, suportando um (o dikírion) duas velas cruzadas; outro (o trikírion) três velas cruzadas. O primeiro simboliza a encarnação, isto é, (duas naturezas e uma pessoa em Cristo); o segundo, a Santíssima Trindade = uma só natureza divina em três pessoas distintas.

Na hora do triságion o bispo dá uma bênção solene com o dikírion e o trikírion, da seguinte maneira:
Pela terceira e quinta vez o triságion é cantado pelos sacerdotes, no santuário, enquanto o Bispo faz uma cruz em cima do altar com o trikírion (quando do 3° triságion) e com o dikírion (quando do 5°). Em seguida, de frente para o povo, segurando com a mão direita o trikírion e com a esquerda o dikírion, o Bispo ouve o coro cantar a primeira parte do triságion, isto é, "Santo Deus", e dá a bênção aos fiéis que estão no centro da igreja, dizendo: "Senhor, Senhor, olhai do alto do céu e cuidai desta vinha e fazei-a crescer porque foi vossa mão direita que a plantou". Depois do canto da segunda parte, "Santo Poderoso", dá a bênção aos fiéis do lado direito com a mesma fórmula; e faz o mesmo para o lado esquerdo, após o canto da terceira parte: "Santo Imortal". Cada vez o bispo pode usar uma língua diferente: por exemplo, grego, latim e vernáculo.

Substituição do "triságion"

1. Nos dias em que na Antigüidade se administrava o Batismo com solenidade, o triságion é substituído pelo versículo seguinte tirado de São Paulo e dirigido àqueles que foram batizados: "Vós todos que fostes batizados no Cristo, vos revestistes do Cristo. Aleluia". Estes dias são o dia do Natal, da Epifania, Sábado de Lázaro (antes do Domingo de Ramos), Vigília Pascal (noite de sábado santo para domingo de Páscoa), a Semana da Páscoa, e o dia de Pentecostes.

2. Nos dias em que se venera a Santa Cruz, substitui o triságion a aclamação seguinte: "Adoramos vossa Cruz, Senhor, e glorificamos vossa santa Ressurreição. Aleluia". Estes dias são: 30º domingo da quaresma, 10º dia de agosto, 14 de setembro (Exaltação da Santa Cruz).

Epístola e Evangelho

Terminado o canto do triságion, faz-se a leitura da Epístola e do Evangelho. A Epístola é lida pelo leitor e o Evangelho pelo diácono ou pelo sacerdote. Na Divina Liturgia há somente leituras tiradas do Novo Testamento. As do Antigo Testamento se fazem nos outros ofícios litúrgicos, sobretudo no Ofício de Vésperas.

Os Evangelistas na Arte Cristã

Desde a origem e talvez enquanto ainda viviam os Apóstolos, considerava-se o número de quatro Evangelhos como um fato providencial, para o qual procuravam uma razão mística. A explicação mais comum que se dava no tempo de Santo Irineu ( + 202 ou 203) era o paralelo com os querubins alados do Profeta Ezequiel: No primeiro capítulo de sua profecia, Ezequiel descreve a visão que teve e na qual viu quatro seres que aparentavam possuir, cada um, num só corpo, a figura de um homem, de um leão, de um touro (boi) e de uma águia. De cada uma destas figuras, os Santos Padres fizeram o emblema de um evangelista, atribuindo o homem a São Mateus, o leão a São Marcos, o touro a São Lucas, e a águia a São João.

São Jerônimo explica esta atribuição do seguinte modo: São Mateus é representado por uma figura de homem, porque começou seu Evangelho dando a genealogia humana de Jesus, demonstrando assim que Cristo é homem.

São Marcos é representado pela figura do leão porque começou seu Evangelho pela enérgica pregação de João Batista, "voz que clama no deserto", semelhante ao rugido de leão.

São Lucas é figurado pelo touro porque começou seu Evangelho contando a participação do sacerdote Zacarias nas cerimônias do culto no templo onde o boi era a vítima usada nos sacrifícios da Antiga Lei.

São João é simbolizado pela águia porque iniciou seu Evangelho pela eterna origem de Cristo "no começo era o Verbo" e por causa das alturas espirituais e divinas a que se elevou.

A mesa do altar nas igrejas bizantinas tem como suporte quatro colunas nos quatro cantos, e uma coluna maior no centro. As quatro colunas laterais simbolizam os quatro Evangelistas; e a do centro (chamada Cálamos = caniço), a pena com que escreveram (ou melhor, Jesus Cristo, pedra angular da Igreja).

Homilia

Os fiéis ouvem a leitura do Evangelho de pé, com atenção e respeito, como fariam discípulos dedicados ouvindo os ensinamentos de seu mestre e servos fiéis recebendo as ordens de seu Senhor e chefe e dispostos a executá-las. Terminada a leitura, o povo, movido pelo sentimento de gratidão por ter sido julgado digno de ouvir a palavra de vida, clama: "Glória a Ti, Senhor, glória a vós". O sacerdote recoloca o Evangelho sobre o Altar e faz a homilia ou prática. [...] A homilia é uma parte integrante da Missa. O sacerdote tem por missão e obrigação pregar a Palavra de Deus. "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas", disse Jesus a seus Apóstolos (Mc 16,15). E São Paulo recomenda a Timóteo, seu discípulo predileto (2Tm 4,1-3): "Diante de Deus e de Jesus Cristo... eu te peço: prega a palavra, insta oportuna e inoportunamente, repreende, roga, exorta com toda a paciência e doutrina". Se uma das missões do sacerdote é pregar a Palavra de Deus, a obrigação dos fiéis é ouvi-la para fazer dela a regra de sua vida: "Quem vos ouve a mim ouve, e quem vos despreza a mim despreza. E, quem me despreza, despreza aquele que me enviou" (Lc 10,16).

Nem todos os pregadores têm o dom da eloqüência. Não é também a beleza do discurso o que mais importa, mas a verdade; não é a eloqüência e a retórica que se devem procurar antes de tudo, mas a doutrina. "Quando fui ter convosco", escreveu São Paulo aos Corintios (1 Cor 2,1), "para vos dar testemunho de Cristo, não fui com a sublimidade da eloqüência ou da sabedoria... Meu ensino e minha pregação não se baseavam nas palavras persuasivas da sabedoria humana, mas na manifestação do Espírito e do poder (de Deus), para que vossa fé não se funda na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus". "Os pregadores plantam e regam, mas só Deus faz crescer" (1Cor 3,6).

Ectenia ou Súplica Insistente

Depois da homilia o sacerdote proclama, de novo, as intenções pelas quais a assembléia é convidada a rezar: "Digamos todos de toda nossa alma e de; todo nosso espírito, digamos:Senhor tem piedade (Kyrie eleison)". O Kyrie eleison da assembléia completa a frase iniciada pelo sacerdote, e repete-se três vezes após cada um dos pedidos feitos pelo celebrante. Esta repetição do tríplice Kyrie eleison, assim como a intensidade progressiva das súplicas, e também certa liberdade deixada ao presidente da assembléia para acrescentar pedidos à vontade, de acordo com as necessidades do momento e dos fiéis, levou a dar a esta série de pedidos o nome de "ectenia" que quer dizer "súplica insistente". Alguns lhe deram a qualificação de "Católica", no sentido de oração coletiva universal. A ela corresponde a oração comum ou dos fiéis ou "prece da comunidade" [ ... ]: os pedidos que a compõem abrangem todas as classes da sociedade, pois nela se pede:

Pelos chefes hierárquicos responsáveis diante de Deus pelo bem espiritual da comunidade: bispo, sacerdotes, diáconos e religiosos.

Pelos membros da comunidade presentes na Igreja ou residentes na cidade, implorando para eles as graças espirituais e temporais úteis à sua salvação.

Pelos fiéis (pais e irmãos) mortos, não somente da paróquia ou da cidade, mas também de todo o universo.

Pelos fundadores da igreja onde se celebra o Santo Sacrifício. Assim, todos aqueles que contribuíram, de um modo ou de outro, para a construção da casa de Deus, serão para sempre lembrados em cada Divina Liturgia que nela se celebrar.

Pelos benfeitores do templo santo, que lhe ofertam o que é necessário à sua manutenção e conservação e ao serviço divino: pão, vinho, óleo, velas, incenso, toalhas para o altar, vasos sagrados como cálice e patena, castiçais etc.

Em certas igrejas acrescenta-se a esta ectenia comum a ectenia dos defuntos, quando a Divina Liturgia se celebra por um morto (cf. Le rôle du diGere, p. 62). Após a ectenia universal, fazem-se orações dialogadas e secretas pelos catecúmenos. Para bem entender a razão destas orações que parecem anacrônicas, convém recordar uns fatos históricos. Na Igreja primitiva havia duas leis ou disciplinas que desapareceram no decorrer dos séculos: a Lei do Arcano ou segredo e a disciplina do catecumenato.

A Lei do "Arcano"

A Lei do Arcano, que a Igreja estabeleceu por medida de prudência no tempo das perseguições, proibia revelar os mistérios da religião cristã àqueles que não tinham ainda sido admitidos em seu seio pelo batismo. Além do símbolo da fé, a Lei do Arcano abrangia também os sacramentos e particularmente o sacramento da Eucaristia. Numerosos símbolos cristãos, como o peixe, a âncora, a barca, o Cordeiro etc... são vestígios e testemunhos dessa lei. Podemos considerar também como reminiscência do Arcano a oração preparatória à comunhão, na qual dizemos: "Recebei-me, hoje, participante da vossa ceia mística, ó Filho de Deus, porque não revelarei vosso mistério aos vossos inimigos..."

Disciplina do Catecumenato

Na origem bastava fazer profissão de fé em Cristo para ser logo batizado; a instrução se dava depois. Mais tarde, no tempo das perseguições, a Igreja teve de proceder com mais cautela para admitir novos membros em seu seio, exigindo deles um período mais longo de preparação e de prova; este período chamava-se catecumenato. Durante o catecumenato, os que se preparavam para entrar na Igreja pelo batismo podiam assistir somente à primeira parte da Liturgia, chamada por isso "Liturgia dos catecúmenos", isto é, dos que estavam ainda sendo catequizados.

Havia também várias classes de catecúmenos. A primeira delas eram os audientes, que deviam sair logo após a pregação; e a última, os competentes ou eleitos (em grego: fotizomeni), que já estavam para receber, em breve, o Batismo. Trinta ou quarenta dias antes da recepção do batismo, os competentes preparavam-se mais intensamente pela penitência, pela confissão de seus pecados e por uma instrução especial sobre os mistérios da fé. O catecumenato durava dois ou três anos, às vezes mais. O batismo era administrado nas vigílias da Páscoa e de Pentecostes; e, no Oriente, também na Epifania. A confirmação e a comunhão eram conferidas logo após o batismo. Até hoje, no rito bizantino, o sacerdote administra a confirmação juntamente com o batismo, e pode dar a comunhão até às crianças sob a espécie do vinho.

Na Divina Liturgia, pois, depois da homilia, faziam-se orações pelos catecúmenos e pelas várias categorias de pessoas que deviam abandonar o recinto da celebração eucarística, como os penitentes e os energúmenos (possessos). E em seguida eram despedidos por intermédio dos diáconos que clamavam: "Saiam todos os catecúmenos; catecúmenos, saí; saiam todos os catecúmenos; nenhum dos catecúmenos fique!"

Esta disciplina do catecumenato desapareceu. No século VII, São Máximo, o Confessor, revela-nos que, já em seu tempo, a despedida dos catecúmenos e dos fiéis indignos fazia-se como mera formalidade. E em nosso tempo não se exclui mais ninguém da assistência à Divina Liturgia toda. As orações pelos catecúmenos, porém, foram conservadas, ainda que, em nossa Igreja, não há mais catecúmenos no sentido próprio. Qual o motivo?

A Igreja reza pelas necessidades de todos os homens, e também pelas suas próprias necessidades em todos os países e continentes, e não somente em alguma região determinada. Ora, os catecúmenos (adultos preparando-se para o batismo) são numerosos nos países de missão (África e Ásia) e sua fé está em perigo, ameaçada pelas novas ideologias anticristãs e atéias que procuram conquistá-los. Há também os catecúmenos no sentido mais amplo: os não-cristãos, os incrédulos, os materialistas e os pagãos espalhados pelo mundo inteiro e, talvez, vizinhos nossos, que esperam ainda de nós a palavra de verdade e o banho da regeneração. Oremos, pois, por eles, "para que o Senhor lhes revele o Evangelho da justiça e os una a sua Igreja Santa Católica e Apostólica".

Quanto aos próprios fiéis, eis o que Gogollhes sugere para poderem tirar proveito destas orações:
"Cada um dos fiéis, entrando em si e vendo quão longe está ainda em relação à fé e às boas obras daqueles cristãos que, nos primeiros séculos do Cristianismo eram admitidos a participar da ceia de amor; e como, para assim dizer, contenta-se em se declarar seguidor de Cristo, sem associá-lo ainda a sua própria vida; como só ouve e até compreende o sentido dos ensinamentos do Mestre mas não os vive; quão fria e superficial está ainda a sua fé; como não nutre para com seu irmão o fogo do divino amor que perdoa tudo e faz derreter a dureza de seu coração; cada fiel, vendo em si tudo isto, considera-se humildemente ainda catecúmeno. E quando ouve o sacerdote dizer aos fiéis: "Fiéis, oremos pelos catecúmenos, convencidos de ser tão pouco dignos do nome de fiel", ao rezar pelos catecúmenos, reza por si mesmo. E quando ouve o sacerdote dizer: "Catecúmenos, saí!" treme em seu íntimo e pede ao Salvador que um dia expulsou do templo os vendedores inescrupulosos, que de casa de orações o haviam transformado em covil de ladrões, que lhe ilumine a inteligência e lhe dê coragem para expulsar, ele também, do templo de sua alma, o homem carnal que o faz indigno de participar de seu sacrifício imaculado, e de conceder-lhe pureza de coração, humildade, mansidão e fidelidade para que mereça ser incluído no rebanho dos eleitos e dos verdadeiros fiéis" (N. Gogol).

Durante as orações pelos catecúmenos, o sacerdote faz com o Evangelho uma cruz em cima do Antimênsion e, ao pedir a Deus que "lhes revele o Evangelho da justiça", eleva-o e coloca-o de lado. Assim, o lugar do Verbo de Deus escrito fica livre para receber o Verbo de Deus vivo, prestes a ser levado para ali ser sacrificado. Em seguida, abre o Antimênsion no qual geralmente são desenhados os instrumentos 



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Triságion

Pequena Entrada

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