Sobre o Celibato - Breve Reflexão


Parece que a única coisa que todos sabem sobre as Igrejas Orientais é que “eles têm padres casados”. Infelizmente, isto frequente parece ser a única coisa que muitos sabem sobre o Cristianismo Oriental. O que não parece ser amplamente entendido é que as Igrejas Orientais tem muitas distinções teológicas, litúrgicas e espirituais, em que a prática de ordenação de homens casados ao sacerdócio (mas não ao episcopado) deve ser entendida. Se os Católicos Ocidentais querem usar o exemplo das Igrejas Orientais como um guia para sua situação é necessário que eles entendam como um clérigo casado se encaixa na Igreja.

Na Tradição Cristã Oriental, o celibato é associado não ao sacerdócio, mas com o monasticismo. Maior parte dos Cristãos Orientais esperam que seus párocos sejam homens de família casado. Porém, embora seja verdade que Cristãos Orientais geralmente valorizem seus clérigos casados, é igualmente verdadeiro que a maioria dos fiéis mantém o monasticismo no mesmo patamar (em aspecto de dignidade). O Papa João Paulo II enfatiza em sua Carta Apostólica Orientale Lumen quando ele diz que o monasticismo das Igrejas Orientais é como o “ponto de referência” para todos os Cristãos. Seja qual for a sua preferência pastoral, as Igrejas Orientais estão muito longe de ver o casamento como teologicamente ou espiritualmente preferível ao celibato.

Este é o primeiro e, possivelmente, o mais importante ponto a ser feito. O Cristianismo Oriental insiste tanto que o casamento e o celibato são necessários para uma Igreja saudável. Cristãos Orientais não veem essas duas vocações como opostas umas as outras. Eles considerariam como suicida abandonar o celibato clerical, de tal forma a implica que o princípio do celibato já não tem valor algum.

O celibato no Cristianismo Oriental é visto principalmente como uma forma de asceticismo, uma ferramenta de acesso à Theosis, isso combinado a uma série de outras renúncias, e não como algo isolado, em si. Asceticismo significa, em essência, viver ao mesmo tempo na terra e no paraíso. Isso significa entender que cada coisa que vemos nesta vida, cada coisa que tocamos, pensamos, e sentimos, é de algum modo uma revelação da vida que virá. Isto significa muito mais que um entendimento de que essa vida terá fim e será substituída por outra. Isso significa que vivemos agora e a vida que viveremos pela eternidade são, de alguma forma misteriosa, a mesma. “As trevas vão passando”, diz S. João, “e já a verdadeira luz ilumina” (1 João 2:8).

Para um asceta, o tempo revela a eternidade. O asceta, assim, quer ser livre de um modo meramente humano de ver o tempo como um ciclo de trabalho e descanso, vida e morte. Em vez disso, o asceta vive no tempo, como se fosse na eterna liberdade da eternidade. Portanto, o asceta ora. Para um asceta, a comida revela o divino jejum. Ele é liberto de uma atração meramente animal do alimento e, em vez disso, prova apenas as promessas espirituais que estão escondidas dentro dos apetites terrenos. Portanto, o asceta jejua. Para um asceta, propriedades revelam as muitas "mansões do Reino Celeste”. O asceta é libertado da escravidão às coisas, vendo em tudo o Criador de todas as coisas. Portanto, o asceta dá esmola.

É o mesmo com a sexualidade. Para um asceta, todo relacionamento humano “mesmo o próprio ato sexual” revela um divino amor. Escondido abaixo da superfície de todos os amores menores encontra-se o abismo incomensurável do amor de Deus. O asceta realiza aquilo o que outras pessoas dão a ele pelo caminho do amor encontrando a verdade e seu significado mais profundo naquele que é a fonte de todo amor. O celibato é o reconhecimento prático da realidade que está por trás da imagem, do protótipo atrás do ícone. O amor humano sem celibato é apenas um mero sentimento, na pior forma de idolatria.

Em ambos os casos, um amor meramente humano é um sistema fechado, como um rio sem saída para o mar. Face a face, dois seres humanos no amor tornam-se bloqueados em um abraço da morte. São Gregório de Nissa, mesmo sendo um homem casado, escreve em seu tratado Sobre a Virgindade:

“Sempre que o marido olha na face amada, nesse momento, o medo da separação acompanha o olhar... Algum dia toda essa beleza irá desaparecer e torna-se nada, transformou-se após todo essa mostra em ossos fétidos e feios, que não usam vestígio, nenhum memorial, nenhum resquício do que florescem vivo.”

A tragédia do amor e morte pode apenas ser superado pela comunhão da humanidade e divindade em Cristo através do Espírito Santo. Somente quando dois tornam-se três, quando um casal torna-se uma trindade, o terceiro sendo Deus, só então o triunfo da morte pode ser pisado na ressurreição. “Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima. Mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram!” (1 Coríntios 15:19,20).



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