Eclesiologia Católica Oriental - Sínodo dos Bispos ao redor do Papa - Parte IV

Intervenção do Patriarca Máximo IV. Ocorreu em 6 de novembro de 1963 ao final da 61 congregação geral. Acolhida por aplausos, deveria encontrar, em certo meios, uma oposição cerrada. Sabe-se que, por fim, o Papa constituiu em torno dele um "Sínodo dos bispos", eloquente sinal de colegialidade episcopal na administração central da Igreja. 

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O Capítulo deste Esquema sobre "Os Bispos e o Governo das dioceses" só tem em vista, em torno do Soberano Pontífice e para ajudá-lo em seu ministério primacial relativo à Igreja Universal, as Congregações, os Tribunais, e os Ofícios, cujo conjunto formam o que se convencionou chamar "Cúria Romana". No n.5, é verdade, o nosso texto propões uma pequena e tímida resposta, visando à possibilidade de convidar os Bispos do mundo inteiro a fazer parte dos dicastérios da Cúria Romana a título de membros e conselheiros.

Parece-me que este modo de limitar à Cúria Romana a colaboração do Episcopado Católico no governo central da Igreja não corresponde nem às necessidades reais da Igreja de nosso tempo, nem à responsabilidade colegial do episcopado pela Igreja.

Seja-me também permitido propor uma solução nova que me parece corresponder mais às exigências de nossos tempo e aos seus princípios teológicos.

Pedro, com os Apóstolos, é o Papa com o Corpo episcopal. O Papa é também Bispo de Roma, Primaz da Itália e Patriarca do Ocidente. Mas essas funções são secundárias - se bem que reais - comparadas ao seu primado.



Assim sendo, segue-se que quando o Papa governa a Igreja Universal, ele faz-se ajudar para compartilhar a sua responsabilidade pelo Colégio e pelos Bispos que sucedem ao Colégio dos Apóstolos, e não por padres, diáconos e outros clérigos da diocese de Roma. A Corte Particular de Roma, própria dessa diocese, não deve substituir ao Colégio dos Apóstolos, vivente em seus sucessores, os Bispos. Cabe pois a este Santo Concílio tomar as medidas necessárias para pôr a claro essa verdade, esquecida por uma prática secular, envolvendo-se de nuvens que vão se adensando cada vez mais, a ponto de que muitos mesmo entre nós, acabaram por achar a situação normal, embora não seja; pois a corte do Bispo de Roma é uma coisa, e o Colégio Apostólico do Sucessor de Pedro é outra. Com a corte atual do Papa, é difícil àqueles que estão fora da Igreja Católica e a muitos que estão dentro ver a ecumenicidade da Igreja. Pelo contrário, o que aparece é o particularismo de uma Igreja particular, a qual os homens, o tempo e as circunstâncias favoráveis deram uma contribuição humana temporal considerável de grandeza de forças e de riqueza. O fato mesmo da nomeação dos Cardeais para Igrejas particulares de Roma mostra que os cardeais pertencem à Igreja particular de Roma, e não à Igreja Universal de Cristo.

É claro que todos os bispos do mundo não podem ficar reunidos constantemente em Concílio. É um grupo restrito de bispos representando os seus colegas que deve ter o encargo concreto de ajudar o Papa no governo geral da Igreja. É esse grupo que deveria formar o verdadeiro Sacro Colégio da Igreja Universal. Ele compreenderia os principais Bispos da Igreja. Seriam, primeiro, os Patriarcas Residenciais e Apostólicos, tais como os reconhecidos pelos Concílios nos primeiros séculos, em seguida seriam os Cardeais-Arcebispos, com o título de sua catedral e não com o título de uma paróquia de Roma; seriam enfim Bispos escolhidos nas conferências episcopais de cada país. Está última sugestão deveria ser estudada para ser posta em prática. Esse Sacro Colégio Universal poderia ser convocado pelo Papa por tempo fixo e quando se fizesse sentir a necessidade, para debater as necessidades gerais da Igreja.

Mas, naturalmente, isso não basta. Seria necessário que houvesse constantemente em Roma o que a Igreja Oriental chama de "Synodos endimousa", quer dizer, alguns membros do Sacro Colégio Apostólico e Universal, sucedendo-se por revezamento ao lado do Papa, seu chefe, que tem sempre, por direito primacial, a última palavra. Será esse Conselho Supremo da Igreja, a "Suprema", Conselho Supremo executivo e decisório da Igreja Universal. Todos os organismo romanos devem submeter-se a ele. Esta "Suprema" terá o seu regulamento especial concernente a sua constituição. Ela irradiará o Cristo pelo mundo inteiro, sobretudo pelo mundo pagão. Não ficando bloqueado em um centro fechado nele mesmo, não terá a ideia de querer tudo açambarcar, tudo regulamentar, tudo governar de maneira uniforme e pormenorizada. Ela compreenderá que os problemas dos povos devem ser regulados por eles ou com eles, nunca sem eles.

Em resumo, dizemos que o Santo Padre, tanto como qualquer pessoa do mundo, não pode governar com os seus familiares uma instituição tão grande quanto a Igreja Universal, da qual depende o interesse do cristianismo no mundo inteiro. E tudo isso é conforme o Evangelho, pois se a Igreja foi confiada especialmente a Pedro e a seus sucessores, ela também foi confiada aos Apóstolos e a seus sucessores; e se este governo é confiado a pessoas não constitucionais, como os familiares e o clero local, o bem geral será deficiente e verdadeiras catástrofes se poderiam seguir. Há exemplos disso na história.



Nos tempos atuais, essas verdades de ordem teológica constitucional e prática revestem um carácter de urgência e gravidade.

Nos países de civilização mediterrânea do Antigo Império Romano do Oriente e do Ocidente, ou dos países que deles surgiram, as coisas poderiam continuar por tempo indeterminado, se se concedessem grandes competências às conferências episcopais que, em resumo, são uma forma moderna dos Patriarcados históricos. Mas em países com grandes aglomerações humanas, como a China e a índia, países de grandes e antigas civilizações sem nada em comum com a civilização mediterrânea, é preciso alguma coisa a mais a ser encontrada com a ajuda da própria cristandade. O mesmo se diga das Igrejas Africanas, de tão rico dinamismo. Há lá um grande trabalho de base a ser feito para que essas Igrejas se sintam em casa com relação a língua, mentalidade, usos e costumes. É preciso que elas sintam que o cristianismo não lhes é estranho, que ele é alma de sua alma.Esses povos deveriam gozar de uma autonomia interior maior que as dos países mediterrâneos conservando o laço necessário com a Sé de Pedro. Que lhes imponha só o essencial à constituição da Igreja. Como o decidira outrora o primeiro Concílio de Jerusalém com relação aos gentios. Depois de tanto trabalho de devotamento, de luta e sacrifícios muito meritórios, pode-se dizer que o cristianismo apoderou-se dessas regiões pelo coração? E, no entanto, é preciso chegar a poder dizê-lo.

Cabe ao novo Sacro Colégio elucidar esses grandes problemas e dar-lhes, com oração, estudo, tempo e prudência, a necessária solução que exijam. Os membros do Sacro Colégio vêm de todas as partes do mundo e, tendo uma mentalidade ecumênica, estarão mais capacitados para o trabalho de dotar a Igreja de um organismo capacitado a dirigir todos os passos na unidade católica.

Se o Espírito Santo, por intermédio do Papa Leão XXIII, de abençoada memória, sugeriu realizar esse Concílio para a abertura do diálogo da Igreja com o mundo inteiro, e se, em seguida, após a sua morte, sugeriu escolher o nosso Santo Padre Paulo VI para continuar e organizar esta obra divina, é que ele está sempre na Igreja para guiá-la e vivificá-la. "Envia o teu Espírito e Ele renovará a face da terra".


Comentários

  1. Está escrito errado. Está Leão XXIII, é São João XXIII.

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