O Rito Bizantino - Parte V

Anáfora ou Cânon


Diálogo de introdução
Oração Eucarística (Prefácio)
Santo
Narração da última Ceia e Consagração
Anamnese
Terceira Oferenda
Epiclése
Comemorações
Conclusão: Doxologia e Bênção

Com o credo termina o Ofertório e logo começa a anáfora. Anáfora, palavra grega que significa "elevação", "oblação", é a parte central, a parte sacrifical por excelência da liturgia; seu correspondente no rito romano é o "cânon". Inicia-se por um diálogo solene: "Fiquemos respeitosamente de pé..." e acaba por uma bênção antes da preparação para a comunhão: : "E que a misericórdia de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo esteja com todos vós".

Na origem a anáfora não comportava nenhum elemento variável, mas constituía-se de uma oração eucarística fixa, na qual enumeravam-se todos os títulos pelos quais, segundo os dados da antiga Lei, Deus tinha direito a nossa gratidão. Esta enumeração dos benefícios da Providência terminava pelo maior deles, a Encarnação do Verbo que, antes de morrer, instituiu ele próprio o sacramento da Eucaristia. Aqui se fazia a narração da última Ceia.

No Ocidente, provavelmente no fim do século IV, em Roma e nas Igrejas onde sua influência se fazia logo sentir, o Cânon começou a admitir variações de acordo com as estações do ano e as festas dos santos. Como havia leituras (Epístolas e Evangelhos) diferentes para cada dia, houve sobretudo prefácios variados para cada época do ano litúrgico: prefácios para o Natal, a Epifania, a Páscoa etc.

No Oriente, ao contrário, conservou-se o antigo sistema de anáfora única e invariável no ano todo. O tema da anáfora (Oração Eucarística por excelência) é a Ação de Graças à Santíssima e Divina Trindade por todos os benefícios recebidos e recapitulados, de certo modo, no augusto sacrifício.

Ação de Graças a Deus Pai que nos deu o ser e nos chamou a uma vida eterna e bem-aventurada. Ação de Graças a Deus Filho que se fez homem, como nós, para nos resgatar e que "na noite em que se entregou a si mesmo para a salvação do mundo instituiu o grande mistério da Eucaristia; e do qual comemoramos tudo o que fez por nós: a cruz, o túmulo, a ressurreição, a ascensão ao céu, a entronização à direita do Pai, a segunda e gloriosa vinda".

Ação de Graças a Deus Espírito Santo, implorando sua descida sobre o pão e o vinho para consagrá-los, e sobre os fiéis, sobretudo os comungantes, para santificá-los (esta é a epíclese)

A anáfora inicia-se por um diálogo solene, cuja presença, com algumas variantes, em todas as liturgias cristãs, sem exceção alguma, mostra bem a sua Antigüidade e importância: ele representa com o Amém final, o testemunho de que toda a Assembléia está incorporada na oração por excelência, a Eucaristia.

O sacerdote começa com a seguinte recomendação: "Fiquemos respeitosamente de pé, fiquemos de pé com temor; sejamos atentos para oferecer em paz a santa oblação". Fiquemos como convém ao homem diante de Deus, com respeito e temor mas também com esta coragem e dignidade espiritual que honra a Deus e nos honra; com a união dos corações, restabelecida pela paz mútua, sem a qual não se pode elevar até Deus.
Como resposta a este convite, a Igreja inteira, trazendo em sacrifício o louvor de seus lábios e o amor de seu coração, diz: "A misericórdia de paz, o sacrifício de louvor".

Insiste-se de novo na necessidade da paz antes da realização do mistério eucarístico. A esse respeito, disse São João Crisóstomo, na terceira homilia sobre a Epístola de São Paulo aos Colossenses: "O presidente da Assembléia, entrando na Igreja, diz logo: 'Paz a todos'; abençoando, diz: 'Paz a todos'; quando prega a hora do ósculo, diz: 'Paz a todos'; no fim do sacrifício, nas igrejas, nas procissões, nas conversas, diz: 'Paz a todos', uma, duas, três vezes e mais..." Da doce boca de Jesus não saia senão a palavra "PAZ", "Eu vos deixo a paz. Eu vos dou a minha paz". Aqui não basta que estejamos em paz, mas o sacrifício, a oferenda que devemos oferecer é a própria paz não somente entre os homens, mas sobretudo com Deus.

Em seguida, o sacerdote saúda o povo com uma fórmula tirada do Apóstolo Paulo (2Cor 13,13): "A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós". Ao Pai atribui-se o amor, a caridade, porque, diz São João (Do 4,8), "Deus é Amor". A caridade de Deus para conosco manifestou-se em ter enviado ao mundo o seu Filho Unigênito, para por ele vivermos. Esta caridade consiste nisto: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que primeiro nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.

A graça relaciona-se com o Filho, segundo estas palavras de São Paulo (Rm 5): "Se pelo pecado de um (Adão) morreram muitos, muito mais abundantes se derramou sobre muitos a graça e o dom de Deus, pela graça de um só homem, Jesus Cristo". E São João, falando do Verbo (Jo 1,14) diz: "Nós vimos a sua glória, glória do Filho único do Pai, cheio de graça e de verdade... Todos nós recebemos da sua plenitude, graça sobre graça. Porque a Lei foi dada por Moisés mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo". Do Espírito Santo deseja-se a sua comunhão, a sua descida em nós como desceu sobre os discípulos reunidos no cenáculo em forma de línguas de fogo. "Eu derramarei do meu Espírito sobre os meus servos e sobre as minhas servas, diz o Senhor" (At 2,17). E São Paulo diz aos Corintios (1 Cor 6,19): "Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós e que recebestes de Deus?"

Estas manifestações externas, mesmo atribuídas separadamente a cada uma das três pessoas divinas, são de todas elas juntas, pois as três pessoas são um só Deus.

Retribuída a saudação pelos fiéis com a fórmula "e com teu espírito", o sacerdote exorta-os a "elevar os corações ao alto" e eles respondem: "nós os temos para o Senhor" .

Antes do ofertório fomos já convidados a deixar de lado toda preocupação temporal para poder acolher o rei do universo. Agora que este rei está prestes a descer do céu para ser imolado misticamente por nós, sobre o altar, esqueçamos tudo da terra e levemos nossos corações para junto de nosso tesouro, Cristo nosso Salvador. "Que ninguém", dizia São Cirilo de Jerusalém, "esteja aqui de modo a dizer de boca: 'temos o coração para o Senhor', enquanto seu espírito é tomado pelas solicitudes deste mundo. Sem dúvida, devemos pensar em Deus em todo momento. E se isto é impossível à fraqueza humana, procuremos fazê-lo, pelo menos, com mais concentração e intensidade durante o sacrifício do altar".

"É digno e justo"


A exemplo do Salvador que na última Ceia, antes de partir o pão e benzer o Cálice, "deu graças", o sacerdote conclama os fiéis a darem graças ao Senhor; em grego: Eucaristicomen to Kirio, de onde derivou a palavra "Eucaristia".

A Assembléia reconhece logo e proclama que isto é digno e justo. Cumprindo o que pediu que os fiéis fizessem, o sacerdote dá graças a Deus Pai, em nome do povo, "por todos os benefícios conhecidos e ignorados, manifestos e ocultos", recebidos da sua bondade; sobretudo pelo envio de seu Filho Unigênito que, enquanto esteve entre nós, tudo fez para nos levar ao céu a fim de participar de seu reino futuro. Agradece-lhe, também, a condescendência de aceitar das nossas mãos o sacrifício que vai oferecer, apesar de ter a seu serviço milhares de arcanjos e miríades de anjos, os Querubins, e os Serafins...

E em voz alta: "Cantando o hino da vitória, clamando, bradando e dizendo: 'O povo, completando a frase do celebrante, canta: 'Santo, santo, santo...'"
Aqui convém ressaltar a perfeita união, o íntimo entrosamento dos fiéis com o sacerdote nos mesmos sentimentos e convicções, a ponto de espontaneamente e com ânimo completarem o que ele lhes sugere.
"Santo, Santo, Santo"

O "Santo" é um hino que reúne o que o Profeta Isaías ouviu no céu os anjos cantarem quando da visão em que Deus o chamou para desempenhar sua função de Profeta (Is 6,3) e o que as crianças e os filhos dos hebreus gritaram no dia da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém: Bendito seja o que vem em nome do Senhor... .
Neste hino o céu e a terra se unem para louvar Cristo prestes a descer do céu, para se imolar misticamente na terra: o céu o acompanha, descendo, cercado pelos exércitos celestes, cantando: "Santo, Santo, Santo, é o Senhor dos exércitos; o céu e a terra estão cheios de vossa glória". A terra recebe clamando: "Bendito seja o que vem em nome do Senhor".

Nenhum texto sublinha tão bem quanto o "Santo" que a Missa é, antes de tudo, "o sacrifício de louvor". O que oferecemos a Deus, com Cristo, não são as nossas obras terrenas às quais pudéssemos atribuir um valor próprio; é sim o louvor, pelo qual mergulhamos na adoração da divina Majestade, una e trina, esquecendo-nos de nós mesmos e da nossa vida perecível, para só exaltar a glória de Deus do qual o céu e a terra estão cheios.
Os quatro verbos usados pelo sacerdote, no Ecfonema que introduz o hino do "Santo": "Cantando, clamando, bradando e dizendo", lembram, segundo São Germano, os "quatro seres vivos" descritos por Ezequiel na sua profecia por São João Evangelista no Apocalipse. Tinham cada um, além das 6 asas e dos múltiplos olhos, a face de uma águia, de um boi, de um leão e de um homem; e "não cessavam de clamar dia e noite àquele que estava sentado no trono: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus..." (Ap 4,8). Cada verbo exprimia o som de voz próprio a cada um desses seres.

Aqui o sacerdote tira o asterisco em forma de abóbada que cobre a patena, e que ali foi colocado no momento da preparação das oblatas, para lembrar a estrela dos magos que parou em cima do lugar onde estava o menino recém-nascido. Faz com ele o sinal da cruz em cima da mesma, beija-o e o coloca de lado.
Após o "Santo" seguiam, no rito romano, quatro orações de intercessão. Da Ação de Graças a oração do celebrante passava à petição. No rito bizantino, o que corresponde a estas orações se reza depois da consagração e da epíclese: comemorações dos santos, dos mortos, dos vivos e da hierarquia eclesiástica. Esta ordem foi adotada na nova liturgia romana.

Continuando, pois, a dar graças, o sacerdote faz a narração da instituição da Eucaristia, na última ceia, de modo que as palavras da consagração serão apresentadas como sendo ditas pelo próprio Senhor Jesus.
Convém aqui ressaltar a maneira com que as palavras sagradas do Salvador são postas em relevo, em destaque: o sacerdote (que até este momento havia orado em silêncio, levanta a voz) canta a consagração em meio ao recolhimento atento da assembléia. Em certos ritos, o parentesco dos idiomas (o siríaco e o árabe são da mesma família lingüística que o aramaico) permite ouvir estas palavras numa forma análoga àquela em que historicamente foram pronunciadas.
Em todos os ritos orientais, depois de cada fórmula consacratória, a assembléia unida clama: "Amém", proclamando assim a sua fé na transubstanciação que acaba de se realizar.
dizendo "Amém", renovamos a nossa fé e agradecemos o grande milagre de amor que, pelas palavras pronunciadas por um homem fraco como nós, transforma o pão e o vinho no corpo e sangue do homem-Deus que, todos os dias, desde cerca de 20 séculos, se oferece em sacrifício por nós sobre os nossos altares.

Anamnese


A anamnese (= recordação) é uma oração secreta que segue a consagração e pela qual se lembra o Senhor e seus mistérios, conforme o mandamento que ele mesmo nos deu ao instituir a Eucaristia: "Faze i isto em memória de mim" (Lc 22,19).

Em todas as liturgias a narrativa da instituição e a anamnese são duas coisas intimamente ligadas: o fim da assembléia não é realmente fazer a memória do Senhor, num rito que o torna presente a ele e aos seus mistérios? Apoiada nas próprias palavras do Salvador, a Igreja proclama solenemente a realização destes mistérios. Na Liturgia de São Basílio, a anamnese é mais explícita que na de São João Crisóstomo, pois começa por reproduzir o próprio mandamento do Senhor: "Faze i isto em memória de mim. Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a minha morte, e confessareis a minha ressurreição" (1 Cor 11,26), para em seguida acrescentar: "Lembrando-nos, pois, deste mandamento do Senhor e de tudo o que se realizou por nós", e imediatamente enumeram-se os mistérios redentores: a morte na cruz, a sepultura, a ressurreição, a ascensão ao céu, a entronização à direita do Pai e a segunda e gloriosa vinda.

Em razão destes mistérios redentores tornados presentes, a Igreja pode oferecer ao Pai, como proveniente de seus dons mais preciosos "a vítima espiritual", como diz a liturgia de São João Crisóstomo, ou "o sacrifício perfeito e santo", segundo as expressões do novo cânon romano.

Aqui o sacerdote eleva o cálice e a patena formando com eles uma cruz em cima do altar e diz em voz alta: "O que é vosso do que é vosso, nós vos oferecemos em tudo e por tudo", querendo dizer com isto que Jesus Cristo presente no cálice e na patena é, ao mesmo tempo, quem oferece, quem está oferecido e quem recebe a oferenda; é a vítima e o sacrificador que a oferece por todos, em nome de todos e nas intenções de todos. O que é vosso, isto é, o Corpo e o Sangue de vosso Filho; do que é vosso, isto é, do pão e do vinho; nós vos oferecemos em tudo, isto é, em nome de todas as vossas criaturas; e por tudo, isto é, nas intenções de todas as vossas criaturas.

Na oração secreta do ofertório, o sacerdote tinha já expressado este mesmo pensamento: "Aceitai, Senhor, que estes dons vos sejam oferecidos por mim, vosso servo pecador e indigno; pois sois vós quem ofereceis e sois oferecido, quem recebeis e sois distribuído, ó Cristo, nosso Deus" .
Esta fórmula foi gravada em volta do altar que o Imperador Justiniano colocou na sua basílica de Santa : "Ó Cristo, vossos servos Justiniano e Teodora, vos oferecem vossos dons de vossos próprios dons".
A resposta do coro dirige-se à Santíssima Trindade e foi assim comentada por São Germano de Constantinopla. "Nós vos louvamos, ó Pai, vos bendizemos, ó Filho, vos rendemos graças, ó Espírito Santo; e vos suplicamos, ó Trindade Santa, nosso Deus."

Epíclese

A epíclese, tal como se encontra na liturgia bizantina e em todas as liturgias orientais, é uma invocação a Deus Pai, para que envie seu Espírito Santo a fim de que este Espírito Santo transforme os dons e que estes dons santifiquem os fiéis que os receberão.

O lugar normal da epíclese é aqui mesmo, após a anamnese, pela qual o sacerdote lembra os mistérios redentores do Salvador: paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu. Este último mistério leva naturalmente a recordar o Pentecostes, com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e sua ação invisível nas almas por meio dos sacramentos instituídos por Cristo.

Por outro lado, na oração eucarística o sacerdote dirigiu-se a Deus Pai, a quem o sacrifício é oferecido; quanto ao Filho, ele se ofereceu em vítima a seu Pai, renovando, pela boca do celebrante, o mistério da última ceia que tomou com seus discípulos; resta o Espírito Santo, cuja intervenção se invoca, na epíclese, para completar este mistério, transformando as oblatas e por elas santificando os fiéis.

Aliás, o Espírito Santo manifesta-se sempre com o Filho e completa sua obra. No dia da anunciação, desceu sobre Maria e fez o Filho se encarnar no seio da Virgem. No Batismo de Cristo, desceu sobre ele em forma de pomba e, com sua descida, ouviu-se a voz do Pai credenciando o Filho para sua missão: "Este é meu Filho muito amado em que pus as minhas complacências". No dia de Pentecostes, desceu em forma de línguas de fogo sobre os discípulos reunidos no cenáculo e completou a obra do Filho na fundação da sua Igreja.

Em todos os sacramentos destaca-se a ação a ele atribuída: no Batismo, somos regenerados pela água e pelo 
Espírito Santo; na confirmação, recebemos o "Selo do dom do Espírito Santo"; na ordem, o Bispo pede a Deus que encha o futuro sacerdote da grande graça de seu Espírito Santo; na penitência, o confessor absolve em virtude do poder recebido do Salvador, quando, depois da sua ressurreição, soprou sobre os Apóstolos e lhes disse: "Recebei o Espírito Santo. Os pecados serão perdoados àqueles a quem os perdoardes e serão retidos àqueles a quem os retiverdes" (Jo 20,22); no matrimônio, é a graça do Espírito Santo que une os nubentes por um vínculo de amor que só a morte pode desatar; na unção dos enfermos, o doente é ungido com o óleo santificado pelo Espírito Santo, enviado pelo Pai; na eucaristia, sua ação não é menor: é ele que, por sua descida sobre os dons sagrados, os torna fonte de graça e de santificação. Por isso as palavras da Consagração não se devem separar da invocação ao Espírito Santo.

A Igreja Ortodoxa, baseada em certos textos dos Santos Padres, afirma que a transubstanciação se efetua pela epíclese, e não pela consagração. E para reforçar a importância da primeira acrescentou no século XIII, logo após a consagração, o tropário ao Espírito Santo: "Senhor, que na hora terça enviastes..." que se reza habitualmente na quaresma na terceira hora do ofício.

Eis como P. Evdokimov resume a doutrina da Igreja ortodoxa a esse respeito:

"Antes da epíclese propriamente dita: 'Enviai o vosso Espírito Santo sobre nós e sobre estes dons aqui presentes... transformando-os pelo vosso Espírito Santo' . A liturgia apresenta, desde o início, epicléses prévias, elevando-se gradualmente até a palavra final. Com efeito, a prótese começa pela oração: 'Rei Celeste, consolador, Espírito da verdade... vinde e habitai em vós'; a mesma oração está no limiar da liturgia dos catecúmenos. A oração sobre os fiéis chama 'a graça do Espírito Santo sobre os dons que vão ser oferecidos', e a oração do Ofertório: 'Que o bom Espírito de vossa graça desça sobre nós, sobre estes dons oferecidos e sobre todo o vosso povo"'.

Assim, é impossível isolar o instante preciso no qual se opera a transformação, pois todo o cânon eucarístico, pode-se dizer até, a liturgia, desde a prótese representa um só ato que termina na epíclese... Não se pode fixar senão o momento após o qual o sacramento é considerado como cumprido: "Eis consumado e cumprido, segundo nosso poder, ó Cristo, nosso Deus, o mistério de vossa Economia... vimos a verdadeira Luz..."

Comemorações

O sacerdote, que invocou o Espírito Santo pedindo-lhe que a participação no sacrifício não seja para os comungantes causa de condenação, faz a comemoração dos Santos, que por ele foram santificados, e pede que, pela sua intercessão, este mesmo Espírito Santo olhe para nós e santifique nossas almas.

Consumado o sacrifício, o celebrante, vendo diante de si, em cima do altar, o Cordeiro de Deus, prova e garantia do amor divino para conosco, toma-o como mediador; e, animado pela presença amiga deste todo poderoso advogado, apresenta a Deus suas petições e dirige-lhe suas preces com maior e mais firme esperança. Renova agora diante dos divinos mistérios, já agradáveis a Deus, o seu pedido para que as intenções comemoradas na preparação das oblatas, e pelas quais orou no momento do ofertório, sejam atendidas.

A oblação do sacrifício, porém, não é somente imperatória, mas também eucarística. Por isso, como no início da liturgia, quando ofereceu a Deus as oferendas, o sacerdote exprimiu ao mesmo tempo a ação de graças e a súplica, assim também, agora que estas mesmas oferendas já foram santificadas e consagradas, por meio delas dá graças e impetra súplicas, expondo os motivos e os objetos de umas e outras.

Para a Igreja são os santos que constituem os motivos de sua gratidão; é para agradecer a Deus ter-lhe dado filhos santos que ela oferece este sacrifício espiritual; sua gratidão manifesta-se especialmente e acima de tudo em honra da Bem-aventurada Mãe de Deus, a Theotókos, cuja santidade, por um privilégio todo especial, ultrapassa toda outra santidade criada. Eis porque o sacerdote não pede nada para os santos; ao contrário, pede-lhes que se unam a ele para reforçar suas súplicas.

Convém aqui ressaltar a diferença que existe entre os dois elementos da oração de intercessão que segue a epíclese na liturgia de São João Crisóstomo, a saber: ação de graças dadas a Deus, por sua obra santificadora na alma dos santos apresentados como intercessores e a súplica pelos vivos e pelos mortos.

O que demonstra que as orações referentes aos santos não são de petição mas de ação de graças, é a presença de Maria no meio deles e de modo destacado; ao contrário de todos os outros santos, sua comemoração se faz em voz alta e com a participação da assembléia: "Especialmente a nossa Santíssima, puríssima, bendita e gloriosa Senhora Mãe de Deus e sempre Virgem Maria".

Não teria sido ela mencionada ali, se este cortejo sagrado (profetas, apóstolos, pregadores, evangelistas, mártires etc.) necessitasse de mediação, pois ela está acima de toda mediação não somente humana mas até dos Anjos, sendo incomparavelmente mais santa que os mais santos espíritos puros.

Para realçar ainda mais o lugar de Maria na hierarquia dos dons divinos e para melhor indicar suas grandezas e suas perfeições, o coro ou a assembléia, ao ouvir o nome da Mãe de Deus, enlevado pela alegria, canta-lhe um hino de louvor, chamado "Hirmos". Na Liturgia de São João Crisóstomo, este hirmos é o "axion estin" (as duas primeiras palavras é (verdadeiramente) justo - pelas quais começa) na liturgia de São Basílio, o "epi-si-cheire" (ó cheia de graça); e nas grandes festas do Senhor e da Virgem, o "megalinarion".

Estes hinos exaltam de tal modo a Mãe de Deus, a Theotókos, que só eles bastariam para formar uma soma teológica Marial de elevada poesia. Podemos comprovar isto lendo e meditando estes Hirmos no "Liturgikon" na parte referente às festas, fixas e móveis.

O "Axion estin" é composto de duas partes: a primeira, "É verdadeiramente justo glorificar-vos ó Mãe de Deus, que sois bem-aventurada para sempre, isenta de todo pecado e Mãe de nosso Deus", é objeto de uma bela lenda. A segunda parte: "Sois mais venerável que os Querubins, incomparavelmente mais gloriosa que os Serafins. Vós que gerastes o Verbo Deus, sem deixar de ser virgem; a vós que sois realmente Mãe de Deus, nós vos exaltamos", é um tropário, que serve de antífona para ser intercalada (no ofício de orthros-Laudes), entre os versículos do canto da Virgem (o Magnificat = Minha alma engrandece o Senhor).

A lenda a respeito da primeira parte leva-nos à Grécia, ao Monte Atos (A Santa Montanha), onde desde o século X florescem inúmeros mosteiros e eremitérios. Num destes eremitérios, dedicado à Assunção da Virgem, vivia retirado do mundo e do convívio com os outros monges um eremita de grande virtude, com um jovem discípulo. Um dia, o velho monge disse a seu filho espiritual: "Hoje quero ir assistir ao ofício de Vésperas no Grande Mosteiro. Fica aqui e recita o ofício sozinho, como puderes". Chegada a noite, o jovem noviço ouve bater a porta. Era um venerável ancião,revestido do hábito monacal, que pedia hospitalidade para a noite. Na hora do Orthros (Ofício da Aurora = Laudes), o jovem e seu hóspede foram cantar o Ofício. Quando chegaram ao canto da Virgem, o jovem cantou, depois do primeiro versículo, a antífona: "Sois mais venerável que os Querubins...", como era costume, na santa Montanha. Mas, depois dos outros versículos, o hóspede cantou, antes da antífona habitual, a primeira parte do "Axion estin" = "é verdadeiramente justo"... Surpreso, o jovem disse ao hóspede: "Aqui nós cantamos só a 2a parte. Nunca, nem nós, nem nossos pais, tivemos conhecimento da primeira. Por favor, escreve para mim estas belas palavras para que possa eu também cantá-las. E como não havia nem papel, nem tinta, apresentou-lhe a tábua para escrever. O hóspede marcou nela com o dedo o que acabava de cantar e disse: "É assim que doravante, vós e todos os Ortodoxos cantareis este hino". E logo desapareceu. Qual não foi o espanto do jovem ao constatar que as letras estavam gravadas, na tábua, como se fosse numa cera mole. O hóspede, misterioso, só podia ser o mensageiro da Anunciação, o Arcanjo Gabriel.

O acontecimento, acrescenta a lenda, foi logo contado ao velho monge, que o levou ao conhecimento dos anciãos do mosteiro vizinho. E sem demora a tábua foi enviada ao patriarca de Constantinopla, que ordenou que, em todas as Igrejas, o "Axion estin" seja cantado como foi gravado pelo hóspede misterioso.

Freqüentemente nas paróquias, enquanto o sacerdote faz a comemoração da Mãe de Deus, incensando o altar, um dos acólitos apresenta-lhe uma bandeja contendo os pedaços de pão que sobraram da preparação do sacrifício e que serão distribuídos aos fiéis, no fim da Missa. O sacerdote os incensa e benze. Estes pedaços são chamados evlogias ou antídoron. Em certas igrejas esta bênção se dá juntamente com a bênção que conclui a anáfora: "E que a misericórdia de nosso Grande Deus e Salvador Jesus Cristo esteja com todos vós".

Após a comemoração em voz alta da Theotókos, o sacerdote faz memória, em voz baixa, dos mortos e dos vivos, levantando a voz de novo para a comemoração da Hierarquia Eclesiástica, ou "Os dípticos".



Os dípticos

1. Etimologia: Palavra grega composta de dis (2 vezes) e PTIX = folha, tábua para escrever. Dípticos = dobrado em dois, duplo. 

2. Na Antigüidade pagã: Os antigos chamavam dípticos a duas tábuas de madeira, metal ou marfim, unidas e recobertas de cera no interior, de maneira a permitir tomar notas com um estilete. Na Grécia e na Itália antigas os magistrados, governadores e grandes do Estado usavam os dípticos, para neles inscreverem o seu nome e a data da sua nomeação ou eleição e os distribuírem aos amigos como lembrança. Muitas vezes, a parte externa era enfeitada com desenhos ou esculturas.

3. Na Antigüidade cristã: Os primeiros cristãos adotaram esta antiga praxe e serviram-se dos dípticos para neles inscreverem os nomes dos mártires, dos pontífices, dos reis, dos benfeitores, dos catecúmenos, das viúvas etc. que queriam mencionar publicamente na liturgia para que a assembléia rezasse por eles quando o diácono ou o bispo lia os seus nomes.

O uso dos dípticos correspondia à obsessão muito humana, das intenções particulares, que sempre tiveram lugar na oração cristã. Lembremo-nos de que o mártir São Policarpo rogou aos soldados, quando o vieram prender, que o deixassem acabar a oração, na qual enumerava todos os que havia conhecido durante a sua longa vida de nonagenário, "pequenos e grandes, ilustres e obscuros e toda a Igreja universal espalhada pela face da terra"...; e durante duas horas os soldados não ousaram interrompê-lo (d. Igreja em Oração, p. 432).

Nos dípticos eram escritos três grupos de nomes: os santos, os mortos e os vivos, que o diácono lia em voz alta, ora de perto do altar, ora de cima do ambão (estrado).

A lista dos vivos compreendia, entre outros e sobretudo, os Papas e Patriarcas unidos pela uniformidade da fé e pelo vínculo da caridade, e que se nomeavam mutuamente na liturgia. Os dípticos eram, pois, uma das três maneiras pelas quais se manifestava a comunhão entre os cinco grandes patriarcas da Igreja, a saber, os de Roma (o Papa), de Constantinopla, de Alexandria, de Antioquia e de Jerusalém. As duas outras eram as cartas sinópticas e os apocrisiários.

Quando um patriarca era eleito, enviava aos quatro outros, com as comunicações da sua eleição, a sua profissão de fé: era a carta sinóptica. Respondendo-lhe, os outros demonstravam que reconheciam a legitimidade de sua eleição e o aceitavam em sua comunhão. Seu nome passava então a ser citado na Missa, no momento das comemorações dos vivos: era inscrito nos dípticos. O cancelamento do nome nos dípticos significava a ruptura dessa comunhão.

Quando da sua eleição pelo sínodo dos Melquitas, em 22 de novembro de 1967, o Patriarca Máximos V restabeleceu esta prática antiga de "Comunhão pedida" numa carta enviada ao Papa Paulo VI.
No dia 28 de novembro Paulo VI enviou ao Novo Patriarca um telegrama assinado por ele pessoalmente, dizendo entre outras coisas: "... acolhendo de bom grado o vosso pedido de comunhão eclesial, formulamos votos fervorosos e pedimos ao Senhor que vos acompanhe com suas graças..."

Além disso os Patriarcas (sobretudo os de Roma e Constantinopla) trocavam representantes permanentes, chamados apocrisiários. O Papa São Gregório tinha sido aprocrisiário junto ao Patriarca de Constantinopla. 

A extensão das enumerações, variável segundo as Igrejas e as circunstâncias locais, fez, sem dúvida, cair pouco a pouco em desuso esta leitura pública. Atualmente quase todas estas comemorações são feitas em voz baixa pelo celebrante. O povo, porém, toma nelas uma certa parte, duas vezes: a primeira cantando o hirmos "Axion entin" à Virgem Maria, quando da comemoração em voz alta da Mãe de Deus, como vimos acima. A segunda, quando da comemoração da hierarquia eclesiástica. Nesta o celebrante faz em voz alta a memória do Papa, do Patriarca e do Ordinário da diocese (bispo ou arcebispo); e, na liturgia de São Basílio, o diácono faz também memória do sacerdote celebrante: "Lembrai-vos, Senhor, em primeiro lugar de B e A..."

O povo responde: "E de todos e de todas", isto é, lembrai-vos, Senhor, de todos os que estão sendo mencionados e de todas as intenções pelas quais cada um de nós está rezando.

Unamo-nos ao celebrante para rezar por nossos mortos que "adormeceram com a esperança na ressurreição", pedindo para eles "o descanso onde brilha a luz da face do Senhor" .

Oremos, também, seguindo a recomendação de São Paulo a seu discípulo Timóteo (ITm 2,1-4) "por todos os homens: pelos governantes e por todos os que ocupam cargos elevados, a fim de que, gozando da sua paz, possamos viver uma vida sossegada e tranqüila, em toda piedade e honestidade. Porque, acrescenta o apóstolo, isto é bom e agradável a Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade".

Em seguida o sacerdote conclui a Anáfora por uma doxologia trinitária particularmente solene, pela qual pede, ao mesmo tempo, a união de todos para a glorificação do santo nome de Deus. "E concedei-nos que, numa só voz e num só coração, glorifiquemos e celebremos vosso nome venerável e magnífico, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e sempre e pelos séculos dos séculos."

Pelo "Amém" a assembléia reforça o pedido do celebrante para que, na Igreja, não haja senão "uma só fé e um só batismo", como não há senão "um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que se entregou como resgate por todos" (1 Tm 2,5).

Preparação para a Comunhão

Toda a parte da liturgia que se desenrola depois da Anáfora até os atos manuais simbólicos da elevação, fração e imisção, inclusive o Pai-nosso, é considerada como preparação para a comunhão.

Uma pequena ectenia a introduz e um ecfonema concluindo a "oração da inclinação" a termina. Entre a ectenia e o Pai-nosso foi mais tarde intercalada a repetição da éticis que fora dita após o ofertório.

Pai-nosso

Numerosos são os testemunhos que, desde o fim do século IV, assinalam a recitação do Pai-nosso, entre a Anáfora e a Comunhão. Por causa da importância e da grande dignidade desta oração, precede-a, em todas as liturgias, uma introdução pela qual se pede a Deus que nos torne dignos de ousar rezá-la, pois não é pouca coisa poder chamar o Criador de Pai.

Os fiéis manifestaram já "a unidade na fé", recitando o credo; responderam ao apelo "Amemo-nos uns aos outros", pelo ósculo da paz. Assim, todos podem agora, com uma última confiança, ter a "audácia" de confessar sua divina filiação de filhos do Pai.

Pode ser considerado o "Pai-nosso" como uma preparação comum, essencial e perfeita, para a comunhão por vários motivos:

1. Porque o Pai-nosso é a oração dominical, isto é, a oração do Senhor: o próprio Mestre a ensinou a seus discípulos quando estes lhe pediram: "Senhor, ensinai-nos a rezar, assim como João ensinou a seus discípulos" (Mt 6,9 e Lc11, 2).

2. Porque o quarto pedido ("o Pão nosso de cada dia nos dai hoje"), entende-se como se referindo não somente ao pão material, alimento de nosso corpo, mas também e sobretudo ao "pão vivo que desce do céu, para que não morra quem dele se alimentar, mas viva eternamente" (Jo 6,50), alimento de nossa alma, ao pão eucarístico.

3. Porque, não podendo Deus aceitar o sacrifício, daquele que não está reconciliado com seu irmão ("se estás diante do altar, e aí te recordares que teu irmão tem algum motivo de queixa contra ti... vai reconciliar-te primeiro com teu irmão"), o Pai-nosso faz-nos proclamar que "perdoamos a quem nos tem ofendido".

4. Porque o pedido ligado com esta reconciliação, "Perdoai-nos as nossas ofensas", constitui uma purificação imediata de corações (desempenhando e melhor, o papel que tomaram em seguida neste lugar, certas fórmulas de contrição ).

Rezando o Pai-nosso, falemos com Deus como os filhos falam com seu pai, porque, conforme diz São Paulo, aos Efésios (2,18), por Cristo, que na sua carne destruiu as paredes da separação entre nós e Deus, e as inimizades, recebemos, no batismo, o Espírito Santo no qual temos acesso ao Pai. E então não somos mais hóspedes nem estranhos, mas concidadãos dos santos, filhos e membros da família de Deus.

Oração da Inclinação

O Pai-nosso não se conclui pelo "Amém", mas por uma doxologia de louvor à Santíssima Trindade a quem pertence o reino, o poder e a glória pelos séculos.

Em seguida, mais uma vez o sacerdote deseja a paz a todos os fiéis presentes no templo e os convida a inclinar a cabeça ante o Senhor, em sinal de humilde respeito, de entrega e abandono nas mãos de Deus. Por mais forte que seja nossa confiança nele, visto que nos autorizou a chamá-lo de Pai; por mais filial que seja nossa intimidade com ele, não devemos nunca esquecer nossa condição de criaturas e de criaturas pecadoras.

A própria Virgem Maria que Deus elevou à mais alta dignidade que um ser humano pode alcançar, "sendo a Mãe de Deus", nunca deixou de se proclamar sua serva. "Voltou seus olhos, disse ela em seu Magnificat, para a baixeza de sua serva."

E nós, a exemplo de Maria, após ter chamado Deus de Pai, inclinemos humildemente nossas cabeças diante dele, e renovemos nossos protestos de submissão e acatamento a seus desígnios insondáveis.

Enquanto isto o sacerdote, pela oração secreta "da inclinação", lembra ao Senhor que ele é o Criador todo-poderoso que tirou todas as coisas do nada para a existência e pede-lhe que "olhe do alto da sua morada santa para os que inclinaram suas cabeças diante dele, porque não as inclinaram diante de carne e sangue, mas diante dele, o Deus temível; e que repartisse os dons sagrados que estão em cima do altar, entre nós todos, para o bem de cada um, segundo as suas necessidades particulares, movido pela misericórdia de seu Filho Unigênito e por seu amor pelos homens... .

Atos Manuais Simbólicos

Após a inclinação das cabeças e a respectiva oração secreta, o sacerdote conclama os fiéis a "ficarem atentos" como para ouvir e ver algo de importante que está para acontecer. E logo cumpre os atos manuais simbólicos. 

Dá-se este nome a três atos: elevação, fração e mistura dos dons sagrados, feitos pelo celebrante para manifestar de modo mais expressivo a imolação de Cristo e a unidade de seu sacrifício, realizado sob a dupla espécie do pão e do vinho.

Elevação: O celebrante, segurando com dois dedos da mão direita o "Cordeiro", isto é, a prósfora grande, eleva-a em cima da patena, bem à vista do povo, fazendo com ela uma cruz vertical e dizendo em voz alta: "As coisas santas aos Santos".

Esta fórmula, que estava já em uso no século IV, significa que os dons sagrados que estão em cima do altar são santos, pois são o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e, portanto, só podem ser recebidos pelos santos, isto é, pelos cristãos que têm a consciência pura, conforme diz São Paulo: "Examine-se, pois, o homem, e assim coma deste Pão e beba do Cálice: porque quem come e bebe indignamente, sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação" (1 Cor 11,28).

A Assembléia, impressionada por estas palavras, clama: "Um só Santo, um só Senhor, Jesus Cristo, para a glória de Deus Pai. Amém". Como para dizer que nenhum homem, exceto o "homem Jesus Cristo", pode alcançar por suas próprias forças a santidade que glorifica o Pai. Eis por que, ainda que pecadores, mas com fome e sede de justiça, ousamos com a graça de nosso Salvador e Senhor, aproximar-nos para receber seu corpo e seu sangue, fonte de santidade.

A elevação do Cordeiro se faz para significar que Jesus Cristo é Rei, Senhor e Chefe; e que Deus "o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao Nome de Jesus todo joelho se dobre nos céus, na terra e nos infernos; e toda língua confesse que o Senhor Jesus Cristo está na Glória de Deus Pai" (FI 2,9).

Fração: Em seguida, o sacerdote parte o Cordeiro em quatro partes, segundo os cortes preparados já na prótese, dizendo secretamente: "É partido e fracionado o Cordeiro de Deus, que é partido sem ser dividido, que é sempre comido e nunca consumido, mas santifica os que o recebem".

A fração não tem por finalidade somente partir o pão consagrado em partículas e facilitar, assim, a comunhão, mas tem um sentido simbólico: lembrar que Cristo partiu o pão antes de dá-lo a seus discípulos na última ceia, figurando a entrega de si mesmo por nós em sua paixão: "Comei, isto é o meu corpo que é partido por vós, para a remissão dos pecados".

Os primeiros cristãos davam-lhe tanta importância que "fração do pão" designava a própria celebração eucarística (cf. At 2,46; lCor 10,16).

As palavras pronunciadas quando da fração do Cordeiro significam que Cristo é o mesmo ontem, hoje e pelos séculos. Ainda que seu Corpo seja partido todo dia nos altares, não é dividido e não padece mais; de modo que os que o recebem na Comunhão o recebem inteiro em cada partícula.

A fração da hóstia existe em todas as liturgias. Atualmente parte-se somente a prósfora do celebrante; as que se destinam à comunhão dos fiéis, ou são partidas com antecedência (na pró tese) ou são mesmo pré-fabricadas. Antigamente, em Roma, a fração era um ato importante: os bispos, sacerdotes, diáconos partiam todos os pães consagrados com vista à comunhão dos fiéis, enquanto se cantava o "Agnus Dei".

Num "Ordo Romano" antigo do século VIII, consta o seguinte a respeito da fração da hóstia, na Missa Papal: 

O Papa eleva o Cordeiro e o primeiro diácono eleva o Cálice; depois, o Papa parte o Cordeiro e distribui as partículas aos servidores do templo que as levam aos sacerdotes das paróquias. E quando estes celebram em suas igrejas, deixam cair esta partícula no cálice antes da comunhão, em sinal de unidade de fé e de sacrifício. 

Em seguida, o Papa dá o ósculo da paz ao primeiro diácono e este ao primeiro Bispo. Depois distribui-se a cada bispo e sacerdote presente uma partícula do Cordeiro que ele guarda dentro de um lenço de linho, para, quando celebrar, misturá-la com o vinho consagrado no cálice.

Consignação e imisção (Persignação e mistura): Das quatro partes do Cordeiro partido, colocadas na patena em forma de cruz, o sacerdote tira a parte superior, na qual está marcado o monograma de Jesus (formado da primeira e pela última letra lI); faz com ela uma cruz em cima do cálice (consignação) e deixa-a cair nele (imisção ou mistura) dizendo: "A plenitude da fé do Espírito Santo", simbolizando, assim, a unidade do sacrifício sob as duas espécies.

A mistura, precedida da consignação do cálice, refere-se, sem dúvida, à comunhão. Simboliza também a união do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, quando da sua Ressurreição, efetuada de certo modo no altar.
Água quente ou Zeón

Zeón significa vaso contendo água quente ou a própria água quente da qual o sacerdote, numa colherinha, despeja umas gotas no cálice.

O seu uso neste momento da Divina Liturgia tem várias explicações: uma delas, inspirada nas palavras do sacerdote benzendo a água: "Bendito seja o fervor de vossos santos, a todo momento..." e, despejando-a no cálice: "O fervor da fé, cheio do Espírito Santo. Amém", é a seguinte: simboliza a fé ardente que devemos ter na presença de Jesus Cristo, Deus e homem, no Cálice, e o Santo fervor com que devemos, a exemplo dos santos, nos unir a Cristo, pela comunhão.

Comunhão

Quinonicon (ou Canto da Comunhão): Durante os atos manuais simbólicos e a comunhão do celebrante, o coro executa-a lentamente a piedosa melodia do quinonicon (ou canto da comunhão): O tema desta melodia é um versículo tirado da Sagrada Escritura, e variando segundo os dias da semana e as grandes festas. Constata-se nele uma visível adaptação ao mistério ou ao santo do dia.

No rito bizantino, a cada dia da semana, liga-se a comemoração de um mistério particular, de um santo ou de um grupo de santos. Assim, domingo é consagrado à comemoração da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo; 2a feira, aos Santos Anjos; 3a feira, a São João Batista, o Precursor; 4a feira e 6a feira, ao mistério da Santa Cruz; sa feira, aos Santos Apóstolos, Taumaturgos e Bispos (especialmente São Nicolau); sábado, aos Confessores, mártires, todos os Santos e defuntos. Quanto à Virgem Maria, longe de ser esquecida, é comemorada todos os dias, a todos os ofícios, e particularmente domingo, 4a feira e 6a feira, em razão da sua participação no mistério da Redenção (cf. Litúrgica, p. 37).

Comunhão do Celebrante

Enquanto o coro canta o quinonicon, sacerdote e diácono recitam individualmente as orações preparatórias à comunhão, que são de grande beleza e servem também para os fiéis.

Em todos os ritos, o celebrante, bispo ou sacerdote, é o primeiro a comungar. A comunhão do celebrante no Precioso Sangue, distinta da Comunhão do Corpo de Cristo, foi sempre considerada como indispensável à integridade do rito eucarístico (por isso o celebrante deve comungar em todas as Missas que celebra).

Nas Divinas Liturgias Pontificais, os sacerdotes e diáconos concelebrantes recebem a comunhão da mão do Bispo, que lhes entrega, primeiro, a cada um, uma partícula (especialmente consagrada para isto) na palma da mão direita, colocada em forma de cruz, em cima da mão esquerda. Depois de comê-la, bebem cada um, três sorvos diretamente do cálice, segurado pelo bispo.

A fórmula que o celebrante reza ao receber o corpo e o sangue é bastante significativa: "O precioso e santo Corpo (ou sangue) de Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo é dado a mim N..., sacerdote, para a remissão dos meus pecados e para a vida eterna".

Depois de comungar do Precioso Sangue, ao limpar os lábios com o sangüíneo, o sacerdote diz: "Isto tocou meus lábios, apagou minhas faltas e me purifica de meus pecados" .

Esta fórmula é tirada de Isaías. O profeta conta que, quando em visão, viu o Senhor sentado num trono muito elevado e os Serafins cantando: "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos, a terra toda está cheia da sua glória", um dos Serafins voou em sua direção, trazendo na mão uma pedra em brasa que tinha tomado do altar com uma tenaz, aplicou-a sobre sua boca e disse: "Tendo esta pedra tocado teus lábios, teu pecado foi tirado e tua falta apagada". E logo foi-lhe comunicada a missão que devia desempenhar junto ao povo de Israel (Is 6,1-8).

Simbolismo da Comunhão dos Celebrantes

Os primeiros que comungam ao Corpo e Sangue de Jesus Cristo são os sacerdotes, no santuário. Figuram os Apóstolos a quem o Salvador deu primeiro seu corpo e sangue e comungam sob as duas espécies separadamente. Esta comunhão dos sacerdotes no santuário figura a ceia mística de Jesus com os seus Apóstolos, sua paixão, sua morte e seu sepultamento.

A manifestação da Ressurreição é figurada pela abertura das Portas Santas no momento em que os fiéis são convidados para a comunhão. Quando os celebrantes comungam antes da abertura das Portas Santas, ficam repletos da graça celeste da Ressurreição, pois estão no sepulcro do Senhor representado pelo altar. Lembram os anjos que, antes da abertura do túmulo, foram as testemunhas da Ressurreição e anunciaram o prodígio às santas mulheres.

Estando, pois, como que iluminados pela luz da Ressurreição, transmitem esta graça ao povo, na abertura das portas santas, como na abertura do túmulo (P. Couturier, 189 e Maria... p. 99).

Comunhão dos fiéis

O celebrante, segurando o cálice e a patena, de frente para a assembléia, convida os fiéis para a comunhão, dizendo em voz alta: "Com temor de Deus, fé e caridade, aproximai-vos". Neste convite exprimem-se as disposições que cada um deve ter ao aproximar-se para receber "o pão vivo descido do céu", Jesus Cristo, o Salvador: "Temor e respeito, fé e amor". O povo manifesta logo sua alegria e sua fé na presença real: "Amém, amém, bendito seja o que vem em nome do Senhor. O Senhor é Deus e nos apareceu". E, no caso de muitas comunhões, acrescenta uma das orações secretas que o sacerdote rezou para se preparar para a comunhão: "Recebei-me, hoje, participante da vossa ceia mística, ó Filho de Deus..."

A comunhão sob as duas espécies vigorou, sempre, como regra nos ritos orientais (não latinizados). Para comungar, os fiéis recebiam outrora uma partícula do pão consagrado na palma da mão direita e bebiam diretamente do cálice. As mulheres costumavam cobrir a mão com um véu.

Razões práticas de conveniência, como o perigo de entornar o precioso sangue, a repugnância, ou a ameaça de uma epidemia proveniente do fato de todos beberem pelo mesmo cálice, foram sugerindo diversas maneiras de comungar sob a espécie do vinho. Assim, usou-se beber do cálice por meio de um canudinho de ouro, ou o celebrante verter, com uma pequena colher, uma gota do cálice na boca do comungante; mais tarde, porém, para evitar todo perigo de profanação, o sacerdote passou a despejar no cálice as partículas consagradas e a dar assim, a comunhão sob as duas espécies misturadas com uma colher de ouro. Atualmente pratica-se geralmente a "intinção", isto é, o sacerdote embebe no precioso Sangue a extremidade da partícula a ser dada ao comungante.

No Ocidente a comunhão sob as duas espécies manteve-se até o século XIII. Depois pouco a pouco começou a desaparecer.

O Concílio Vaticano II admitiu expressamente a possibilidade do restabelecimento da comunhão também sob a espécie do vinho, reservando à Sé Apostólica a determinação dos casos precisos, aos quais isto poderá ser feito, e ao bispo o juízo da sua oportunidade concreta.

Para os fiéis tomarem verdadeiramente parte na Divina Liturgia, não deveria ser isto concebível sem a comunhão. A cada Divina Liturgia os fiéis deveriam poder comungar: assim foi o uso apostólico e assim recomenda a Igreja. Nem a beleza das orações, nem a magnificência das cerimônias substituem a Comunhão. Se, na Liturgia, Cristo se oferece em vítima, é precisamente para que possamos comungar a seu sacrifício, recebendo-o em partículas consagradas na Missa a que assistimos, conforme a verdadeira tradição, e não em hóstias antecipadamente consagradas e conservadas no sacrário, a não ser em casos especiais.

Para se preparar a Comunhão recomenda-se rezar as comoventes orações litúrgicas que a Igreja faz o celebrante recitar secretamente: encontramos nelas o correspondente aos atos de fé, de contrição, de desejo e de amor.

Os fiéis comungam de pé, aproximando-se em duas filas e fazendo uma reverência acompanhada do sinal da cruz, antes de chegar até ao sacerdote, e depois de receber o corpo e o sangue do Senhor. O uso ocidental de receber a comunhão de joelhos começou no século XIII: correspondia a uma mudança na interpretação das atitudes litúrgicas e possivelmente também, a uma evolução da piedade eucarística. Pelo Concílio Vaticano II, foi autorizado o restabelecimento do antigo uso.

A fórmula usada pelo sacerdote no momento de dar a comunhão aos fiéis requer que ele nomeie cada um pelo nome do Batismo: "O servo (ou a serva) de Deus N... recebe o santo e precioso corpo e sangue de nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo para a remissão de seus pecados e para a vida eterna". Por isso, visto a impossibilidade de o sacertode saber o nome de todos os comungantes, em certas igrejas cada fiel, ao chegar sua vez de comungar, pronuncia em voz baixa seu nome, de modo a ser ouvido pelo sacerdote que o repete ao lhe dar a comunhão.

Ação de Graças e Despedida

Terminada a comunhão dos fiéis, o celebrante dá-lhes a bênção, dizendo: "á Deus, salvai o vosso povo e abençoai a vossa herança". Porque, conforme diz São Paulo aos Romanos, todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus... E, se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, se é que padecemos com ele, para com ele sermos glorificados" (Rm 8,14-17).
Recebemos esta bênção como se a nós tivesse sido dada pelo próprio Senhor Jesus, quando ao subir ao céu "levantando as mãos, abençoou seus discípulos" (Lc 24,50). Após ter-lhes dito "recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e dareis testemunho de mim... até as extremidades da terra" (At 1,8). 
A resposta da assembléia é uma verdadeira profissão de fé, cheia de grata alegria: "Vimos a verdadeira Luz, recebemos o Espírito Celeste, encontramos a fé verdadeira, adorando a Trindade indivisível, porque ela nos salvou". Enquanto isto, o sacerdote, no altar, rende uma última homenagem de adoração às Santas Espécies, com orações e gestos que parecem querer simbolizar a ascensão do Salvador ao céu: incensa-as dizendo: "á Deus, sede exaltado por cima dos céus, e que vossa glória se estenda por toda a terra". Em seguida, retoma às Portas Santas, ostentando o cálice e a patena e dizendo: "Bendito seja o nosso Deus a todo momento..." e leva-os para o altar da preparação onde se fará a consumição das hóstias que sobraram e a purificação dos vasos sagrados.
O hino "Sejam nossas bocas, Senhor, cheias de vossos louvores" cantado pelo coro, inicia a ação de graças pela participação nos mistérios santos, imortais, puros e vivificantes, que o sacerdote conclui: "Porque sois nossa santificação e nós vos rendemos glórias, Pai..." Ao pronunciar o nome da Santíssima Trindade, faz com o livro dos Evangelhos uma cruz em cima do altar e coloca-o sobre o Antimênsion, como estava no começo da missa. Ali ficará, dia e noite, como em cima de seu trono, conforme já vimos. E logo procede-se à despedida dos fiéis. O sacerdote convida-os a se retirarem junto com ele do templo: "Vamos em paz", como fez Jesus a seus Apóstolos, após a última Ceia: "Levantai-vos. Vamo-nos daqui" (10 14,31). E sai do santuário, para, diante do Ícone do Salvador, rezar a oração conhecida pelo nome de "oração atrás do ambão", porque se rezava antigamente atrás do ambão (estrado) que ficava no meio da Igreja diante da iconostase. Nesta bela oração pede-se a Deus, de novo e pela última vez na liturgia, a santificação e a paz para suas Igrejas e seus ministros, para os governantes, o exército e todo o povo, porque somente dele procedem todos dons e dádivas, e ele abençoa os que o bendizem e santifica os que nele confiam.
(O coro, confirmando as palavras do sacerdote, bendiz e exalta o nome do Senhor.)
Na Missa de São Basílio, enquanto o coro exalta e bendiz o nome do Senhor, o sacerdote, olhando para o altar da preparação, onde agora estão os dons sagrados, reza secretamente a seguinte oração que resume, mais detalhadamente que na Missa de São João Crisóstomo, o que foi feito durante a ação litúrgica que chega a seu fim: "Ó Cristo, nosso Deus, cumprimos, na medida de nossas possibilidades, o mistério de vossa economia divina: renovando o memorial de vossa paixão e contemplando em figura a vossa ressurreição; ficamos repletos de vossa vida infinita e antegozamos vossas inesgotáveis delícias, das quais vos pedimos tornar-nos a todos dignos do século que há de vir".
E logo dá a bênção à Assembléia. Não tendo nada a apresentar como sendo nosso que nos possa merecer a salvação, voltamos nossos olhos para a paternal bondade daquele que é o único a poder salvar-nos, devido a sua misericórdia e seu amor pelos homens. Recorremos também a escolhidos intercessores capazes de defender a nossa causa, ocupando o primeiro lugar a Santíssima Mãe de Deus, pela intercessão da qual obtivemos já tantas vezes a misericórdia.
Apresentamos a Cristo Jesus, como advogados nossos, santos da sua maior intimidade e até parentes seus pelo sangue: Sua Mãe, Maria, seus avós, Joaquim e Ana, seus Apóstolos que ele chama de "Amigos e filhinhos" (Jo 13,33); e também o padroeiro da Igreja dentro da qual ele acaba de se oferecer em sacrifício; o autor da liturgia, no decorrer da qual ele se tornou presente entre nós. Nada é mais sintomático do lugar que ocupa Maria na piedade bizantina, que as menções que dela se fazem no decurso da liturgia e de modo especial nos momentos mais solenes, como a Anáfora e a Comunhão, o que levou um estudioso liturgista a dizer: "Parece que a Igreja não pode realizar nenhum ato de seu culto sem a ele associar Maria, ou melhor, sem nele se associar a Maria, como Àquela que é, por excelência, a associada de Cristo, Àquele por quem todo o corpo místico, em tudo o que faz, se une a seu chefe" (Maria... p. 98).
Antidórom
Nas liturgias solenes o celebrante distribui aos fiéis, após a despedida, o antidórom, ou pão bento, dizendo: "Que a bênção do Senhor e sua misericórdia desçam sobre vós..."
Literalmente, antidórom significa "em lugar do dom, em substituição ao dom". O dom aqui é o corpo e o sangue de Nosso Senhor. Este pão bento destinava-se, primitivamente, àqueles que não tinham comungado. Eram partes sobrando dos pães (prósfora), que o sacerdote, na preparação do sacrifício, utilizou para deles tirar as partículas (Cordeiro e pérolas) necessárias para a Comunhão. Cortadas em pedaços pequenos, eram bentas, depois da consagração ou antes do hino à Virgem Maria, "É verdadeiramente justo...", com um simples sinal da cruz. Todo assistente ao sacrifício da Antiga Lei, assim como aos ritos pagãos, participava do holocausto. A Igreja primitiva permaneceu fiel a esta lei do sacrifício. Mas como a recepção do Cordeiro da Nova Lei requer disposições especiais de pureza e santidade, rapidamente chegou-se à substituição da comunhão ao corpo e sangue de Cristo pela manducação dos pães dos quais o sacerdote tirou a matéria do sacrifício.
Este pão bento lembra, também, as refeições ou ceias fraternais ou de caridade (Ágapes), que os cristãos tomavam juntos, antes ou depois da celebração da Eucaristia. Devemos comê-lo com respeito e piedade e levá-los aos que, por motivo justo, não puderam estar presentes ao Santo Sacrifício, como os doentes e viajantes. Para marcar a diferença entre a comunhão propriamente dita e a manducação deste pão bento, o povo dos campos (na Síria e no Líbano) chama o Antidórom "o corpo de Maria". Receber o Antidórom é receber o corpo de Maria. Esta concepção popular realça de modo tocante o papel de Maria na Missa e no pensamento dos fiéis, e une num mesmo sacrifício Filho e Mãe, ilustrando tão bem estas palavras de Simeão de Tessalônica a respeito da Prótese: "Nela extrai-se o Cordeiro do pão para recordar que o Verbo de Deus nasceu da Santíssima Virgem" (Maria... p. 101-102).

É costume, enquanto o sacerdote faz as abluções e tira os paramentos, o leitor rezar em voz alta as orações de ação de graças para serem ouvidas pelos que participaram do sacrifício e receberam o corpo e o sangue de Cristo. Em seguida, os fiéis retiram-se em paz, levando em seus corações, e em seu espírito, o alimento da Palavra de Deus e de sua graça, como semente boa que deve germinar, crescer e manifestar-se em sua vida de cada dia, pelas boas obras, pela prática das virtudes e pelo cumprimento de seus deveres de estudo; a fim de que, como disse Jesus, "brilhe a sua luz diante dos homens, para que vejam suas obras boas e glorifiquem seu Pai, que está no céu" (Mt 5,16). 


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