O Rito Bizantino - Parte IV

Terceira Parte da Missa


Liturgia dos Fiéis ou Liturgia Eucarística

E logo começa a Liturgia dos Fiéis, com o sacerdote dizendo: "Nós todos, fiéis, ainda e novamente em paz, 
oremos ao Senhor".

Após a despedida dos catecúmenos e dos penitentes, os fiéis devem dar graças a Deus por terem sido considerados dignos de permanecer na Casa de Deus para participar de seus santos mistérios e, como o publicano, repetir humildemente: "Senhor, tende piedade de mim que sou pecador".

A Liturgia dos Fiéis compreende o Ofertório, a Anáfora ou Cânon e a Comunhão.
Ofertório
Orações pelos fiéis
Canto dos querubins
Procissão da Grande Entrada
Segunda oferenda do Pão e do Vinho no altar
Ecténia pequena
Eticis
Ósculo da paz
Credo

O ponto culminante do ofertório é o que se chama de "Grande Entrada", que é também um dos momentos mais solenes da Divina Liturgia. O Sacerdote, numa bela oração secreta, pede humildemente a Deus a graça de desempenhar, sem incorrer em condenação, o ministério a ele confiado, visto que: "Nenhum dos que são escravos dos desejos e dos prazeres da carne é digno de comparecer diante de vós, de aproximar-se de vós e de vos servir, ó Rei da Glória, porque o vosso serviço é grande e temível, mesmo às potências celestes".

Depois, a fim de preparar um ambiente digno e agradável para o Rei de todas as coisas, incensa com profusão o altar, o santuário, e toda a Igreja, enchendo-a de aroma em forma de densas nuvens, no meio das quais serão transladados, da prótese até o altar, o pão e o vinho destinados a se tomarem Corpo e Sangue de Cristo. 

Lembra também aos fiéis que suas orações devem subir até Deus como o incenso e que para serem, segundo a recomendação do Apóstolo, o bom odor de Cristo, terão de se tornar tão puros quanto os Querubins.

Durante a incensação o sacerdote reza, de coração contrito, o Salmo 50 e hinos penitenciais, e o coro canta grave e solenemente o magnífico Hino dito dos Querubins: "Nós que, misticamente, representamos os Querubins, e cantamos o hino três vezes santo à Trindade vivificadora, ponhamos de lado toda preocupação temporal para que possamos acolher o Rei do universo, que as legiões dos anjos acompanham invisivelmente. Aleluia, Aleluia, Aleluia".

Este hino resume todo o significado da Grande Entrada: Cortejo de Cristo, Rei, Sacerdote, e Vítima. Enquanto isso, o sacerdote dirige-se ao Altar da preparação, toma o cálice e a patena e, precedido pelos acólitos segurando as tochas, a cruz e o turíbulo, passa em procissão no meio do povo através da nave central, repetindo várias vezes: "Que o Senhor Deus se lembre de nós todos em seu reino..."

Simbolismo da Grande Entrada

Os liturgistas deram várias explicações para o valor simbólico desta procissão. São Germano de Constantinopla diz que lembra o cortejo triunfal que conduziu Jesus de Betânia a Jerusalém, no domingo de Ramos, enquanto os filhos de Israel clamavam "Hosana!" e os Querubins no céu cantavam o hino três vezes santo. Outros vêem nele o Salvador carregando a sua cruz e dirigindo-se ao Calvário para ali morrer por nós. Para outros, ela simboliza o sepultamento de Cristo, isto é, José de Arimatéia e Nicodemos transportando o Corpo do Calvário para o sepulcro. É este simbolismo que sugerem as orações secretas rezadas no altar, quando nele estão depositados o pão e o vinho. "O nobre José desceu do madeiro o vosso corpo imaculado, envolveu-o num lençol puro, cobriu-o de aromas e o depositou com cuidado num túmulo novo." A prótese seria o Calvário e o altar, o sepulcro no qual "o nobre José depositou o corpo imaculado".

Os fiéis, em sinal de veneração e respeito, fazem uma inclinação da cabeça e se benzem, quando o cortejo passa perto deles. Não é raro ouvi-los pedir humildemente em voz baixa: "Lembrai-vos de mim, Senhor, em vosso reino". O sacerdote, transmitindo seu pedido a Deus, diz: "Que o Senhor Deus se lembre de nós todos em seu reino"... Essas manifestações de veneração dirigem-se a Cristo; não ainda a Cristo presente sob as espécies do pão e do vinho, pois estes não foram ainda consagrados, mas a Cristo representado já por estas oferendas, destinadas a se transformar em breve em seu corpo e em seu sangue.

Simeão de Tessalônica diz: Essas honras tributadas às oblatas que vão se tornar Corpo e Sangue de Cristo são iguais às honras que se tributam ao príncipe que vai ser coroado rei: era conduzido com pompa para o lugar da coroação, cercado pelos grandes do reino e ovacionado pelo povo.

O hino de Cheruvikon foi composto por um imperador de Bizâncio (Justino II, sobrinho de Justiniano) que, apesar do poder terreno que detinha, prostrou-se diante do Rei dos céus. E antigamente em Constantinopla, o próprio imperador, para maior solenidade, tomava parte na procissão. No começo do Cheruvikon, o primeiro diácono ia buscar o imperador, que o acompanhava até a prótese: lá o soberano vestia, em cima dos trajes imperiais, um rico manto de ouro incrustado de pedras preciosas. Segurando na mão direita uma cruz e, na esquerda, o cetro, andava na frente da procissão, rodeado pelos membros do governo imperial. Diante das portas santas, o patriarca e o imperador saudavam-se mutuamente, com uma inclinação de cabeça. O diácono incensava o Imperador, inclinando-se diante dele e dizendo: "Que o Senhor Deus se lembre da tua dignidade imperial em seu reino..." Fazia o mesmo para o Patriarca. O Patriarca, em seguida, tirava o manto que o imperador havia vestido para a procissão, entregando-o a um dos diáconos. O imperador voltava a seu lugar e a Divina Liturgia prosseguia.

Em certas circunstâncias o sacerdote nas portas santas, de frente para o povo, faz menção especial das intenções pelas quais vai oferecer o santo sacrifício. O coro diz "amém", e termina o canto do Cherubin, interrompido pela procissão: "Que as legiões dos anjos acompanhem invisivelmente. Aleluia, Aleluia, Aleluia". Para ter idéia da solenidade realmente impressionante que é a Grande Entrada, é preciso ter visto esta cerimônia...


No rito bizantino, mais do que em qualquer outra tradição, a impressão, o impacto estético deste cerimonial imponente, é de uma importância fundamental. Segundo a narração da antiga "Crônica de Nestor", este elemento foi o fator primordial na conversão da Rússia. Os emissários de Vladimiro, quando voltaram de Constantinopla, contaram: "Os gregos conduziram-nos para onde tributam o culto a seu Deus. E não sabíamos mais se estávamos no céu ou na terra. Porque não há sobre a terra semelhante espetáculo, nem semelhante beleza; e somos incapazes de explicá-la. Sabemos somente que é ali que Deus habita com os homens, e não podemos esquecer esta beleza. Qualquer homem que provou algo doce não suporta mais a amargura. Assim não podemos ficar aqui" (cf. POC T 22, j. 3-4, 1972, p. 247, nota 15).

Éticis

Terminada a Grande Entrada, o sacerdote prossegue o diálogo de orações com os fiéis, interrompido pela procissão das oblatas, dizendo: "Completemos nossa oração ao Senhor". E faz uma série de pedidos, o primeiro dos quais "pelos preciosos dons que foram oferecidos".

Enquanto no início da Divina Liturgia pelas "Irinica", e após o evangelho pela "ectenia" rezou-se por várias classes de pessoas enumeradas separadamente: bispo, clero, governantes, habitantes da cidade, viajantes, doentes, fundadores da igreja e seus benfeitores, cantores, vivos e mortos etc..., nesta série de pedidos chamada "éticis", rogam-se a Deus graças úteis a todos e a cada um dos presentes no templo: um dia pacífico e santo; um anjo de paz que nos acompanhe durante o dia e nos guie no caminho da salvação; o perdão de nossos pecados; a paz para todos os homens; a paz e o espírito de penitência nos dias que nos restam para viver; uma morte cristã, sem dor nem remorso de consciência; e, depois da morte, uma sentença favorável no tribunal de Cristo, supremo Juiz. E, como sempre, conclui-se pela bela fórmula de recomendação à Virgem Maria, Mãe de Deus, aos Santos e às orações mútuas dos fiéis, isto é, pela oportuna recordação das garantias sobrenaturais, provenientes do dogma da Comunhão dos Santos.

Na oração secreta correspondente à segunda da oferenda, o celebrante pede a Deus para "torná-lo apto a oferecer-lhe dons e sacrifícios espirituais pelos seus próprios pecados e pelos erros do povo".

Ósculo da Paz

O ponto central da sinaxe eucarística está se aproximando. O sacerdote procura levar os fiéis a uma preparação mais imediata e mais profunda para este ato sublime, principal motivo da sua presença no templo. 

A isto visam suas proclamações e exortações sucessivas, anunciando o ósculo da paz com o sentido de concórdia e de caridade; o credo, manifestações públicas da fé; e o início da Anáfora, exigindo respeito e recolhimento.

O Divino Mestre, no decorrer da última ceia, disse a seus discípulos: "Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz". O sacerdote, em nome deste mesmo Mestre, saúda os fiéis, desejando-lhes esta paz do Senhor: "Paz a todos". Os fiéis retribuem a saudação: "E a teu espírito".

Na última ceia Jesus deu também a seus discípulos um mandamento novo: "Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, vós vos deveis amar uns aos outros. Por este sinal todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13,34). Por isso, como se faz desde o tempo dos primeiros cristãos, o sacerdote exorta os fiéis a se amarem mutuamente: "amemo-nos uns aos outros para que confessemos em unidade de espírito"... A Assembléia completa a frase começada pelo celebrante, dizendo: "O Pai, o Filho e o Espírito Santo, Trindade consubstancial e indivisível". Esta conclusão da frase iniciada pelo sacerdote mostra claramente o acordo e a intimidade do diálogo de orações que devem existir entre a Assembléia e seu Presidente.

O sacerdote faz três inclinações diante do altar, dizendo cada vez em voz baixa: "Amar-te-ei, Senhor, Tu que és a minha força...", beija a patena e o cálice por cima do véu que os cobre, e também o altar. Os concelebrantes fazem o mesmo, beijando o altar, e todos se dão mutuamente o ósculo da paz. O ósculo da paz na celebração litúrgica é muito antigo. No Oriente sempre foi colocado antes da Anáfora, como preparação para a consagração; no Ocidente transferiram-se para antes da comunhão.

No documento "Tradição Apostólica”, de Hipólito de Roma (3° século), lemos: "Os catecúmenos não devem dar o ósculo da paz, porque o seu ósculo ainda não é santo". Era, portanto, um gesto reservado aos fiéis; depois de os catecúmenos terem sido despedidos, os fiéis saudavam-se mutuamente. "Os fiéis dêem-se o ósculo, prossegue Hipólito, os homens aos homens e as mulheres às mulheres." Quando os fiéis se tomaram mais numerosos e menos coerentes, para evitar abusos, o ósculo da paz restringiu-se primeiro aos comungantes e depois aos celebrantes. Atualmente, no rito bizantino, somente nas Divinas Liturgias pontificais, o bispo, os sacerdotes concelebrantes e os diáconos, se dão o ósculo da paz do seguinte modo: cada celebrante beija o altar e depois o ombro direito do bispo, dizendo: "Cristo está no meio de nós". O bispo responde: "Está e estará". E fazem o mesmo entre si. "Cristo está no meio de nós" é uma referência às palavras de Jesus: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles" (Mt 18,20).

A caridade fraterna é indispensável para poder presenciar a realização dos santos mistérios e neles participar; se esta caridade, este amor mútuo, estiver ferido pelo desentendimento, ou pelo rancor ou ódio, devemos o quanto antes restabelecê-lo pela reconciliação. Senão não lucraremos nada do sacrifício de Cristo, que em vão morrerá de novo por nós. Deus não aceitará nossa oferta: "Se estás diante do altar para entregar a tua oferta e aí te recordares que teu irmão tem algum motivo de queixa contra ti, deixa tua oferta ali diante do altar; vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e depois voltarás para entregar tua oferta" (Mt 5,23-24). Baseado neste preceito do Senhor, disse o Apóstolo que Jesus amava: "Se alguém disser: eu amo a Deus, e odiar seu irmão, é um mentiroso. Pois quem não ama seu irmão a quem vê, como pode amar a Deus a quem não vê?" (l Jo 4,20).

Nunca é demais recordar as exigências da nova lei a esse respeito. Ouçamos como São Paulo canta a caridade que chama  ""o caminho mais excelente" (1 Cor 13,1-7):Se eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse a caridade, seria como o metal que soa ou o címbalo que tine. E se tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e se tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas , se não tivesse a caridade, nada seria. E se distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, entregasse o meu corpo para ser queimado, mas não tivesse a caridade, de nada me aproveitaria. A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não age inconveniente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus interesses, não se irrita, não pensa mal, não se regozija com a iniqüidade, mas se regozija com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca terá fim".

No rito armênio o significado do ósculo da paz é ainda mais explícito. O diácono diz: "Saudai-vos mutuamente pelo ósculo da paz, e que aqueles que não são aptos a participar destes santos mistérios se retirem e vão rezar fora". Todo o povo se saúda dizendo: "Jesus Cristo está entre nós". O coro canta um hino muito breve, mas que sintetiza admiravelmente o sentido infinitamente rico da ação que se passa neste momento: "A Igreja tornou-se um só corpo, e nosso ósculo é o penhor desta união; a inimizade foi afastada e a caridade penetrou em toda parte" (cf. P. Evdokimov, La priere de L'Eg!ise d'Orient, p. 178).

"As portas! As portas! Com sabedoria fiquemos atentos!"

Esta exclamação dirigia-se outrora aos porteiros encarregados de guardar as portas da igreja para que nela não entrassem os que não podiam assistir à Divina Liturgia dos fiéis. A Antigüidade cristã sentiu a necessidade de um serviço de porteiros, encarregados de acolher e indicar o lugar aos fiéis, de afastar aqueles que não têm direito a tomar parte da liturgia, de obter a boa ordem na assembléia, sobretudo no momento da Comunhão eucarística. Este serviço foi, por vezes, confiado a diáconos (ou subdiáconos); Roma contudo teve, durante vários séculos, clérigos com a ordem menor de porteiro. Estas funções, porém, foram depois deixadas aos leigos. Hoje estas palavras dirigem-se a todos os presentes no templo, advertindo-os para que vigiem as portas de seu coração, para dentro do qual o amor mútuo acaba de ser convocado; a fim de impedir que, no interior deste santuário espiritual, se introduza qualquer sentimento de rancor, ódio ou inimizade. Os fiéis, ao ouvirem a proclamação do sacerdote, devem também abrir, com sabedoria, atenção e recolhimento, as portas de seus lábios e de seu ouvido à profissão de fé que de todas as bocas vai ressoar no recinto sagrado.

Credo

Depois que se deram, se não exteriormente, pelo menos mentalmente, o ósculo da paz, sinal da caridade que Cristo exigiu como condição primeira e indispensável para o direito de participar de sua oblação pura, os fiéis são agora convidados a confessar publicamente sua fé, como demonstração da adesão de sua inteligência à revelação divina e da aceitação de todas as verdades ensinadas por sua Igreja e resumidas no símbolo da fé. O que chamamos "Credo" (palavra latina que significa "Creio") é a "regra de fé" que recebemos dos Apóstolos e que, como breve resumo das verdades e dos fatos relativos à salvação, tinha dupla importância: servia externamente como barreira contra os mestres das falsas doutrinas e, internamente, constituía o fundamento da fé e da vida dos fiéis. Neste último sentido tomou mais tarde, no símbolo, a forma de um compêndio de doutrina.

A Antigüidade unia o Credo ao Batismo: os catecúmenos acabavam a sua preparação recebendo a comunhão do símbolo da fé, que deviam aprender de cor e depois recitar ao bispo numa reunião litúrgica pública. Este símbolo batismal era, pois, a expressão solene da fé apostólica. Esta fé, jurada pelo cristão no batismo, é o seu tesouro mais precioso e, no mesmo tempo, sua palavra de ordem, a senha que o faz conhecer por toda parte, como filho da Igreja, como discípulo de Cristo. "Ele pode", diz Santo Irineu, "nascer e crescer em Esmirna, viver em Roma, evangelizar nas Gálias, e encontrará por toda parte a mesma fé, será por toda parte iluminado pelo mesmo sol de Deus".

O símbolo que se reza na Divina Liturgia é conhecido como símbolo Niceno-Constantinopolitano, ou símbolo dos Santos Padres, por causa dos dois Concílios Ecumênicos de Nicéia (325) e primeiro de Constantinopla (381). O Concílio de Nicéia, para combater a heresia de Ário (arianismo) que negava a divindade do Filho, acrescentou ao símbolo dos Apóstolos tudo o que concerne à divindade de Jesus Cristo. Mais tarde, o Concílio de Constantinopla, para combater a heresia de Macedônio (Macedonismo), que negava a divindade do Espírito Santo, introduziu nele os artigos que se referem à divindade do Espírito Santo, "que procede do Pai" e "que falou pelos Profetas".

Foi no decorrer das lutas confusas contra o Arianismo que o credo entrou na Missa. No começo do século VI o Patriarca Timóteo de Constantinopla (511-518) "decidiu que seria recitado de futuro em cada sinaxe", como nos informa um historiador contemporâneo, Teodoro, o Leitor (que atribui a introdução do credo na Divina Liturgia a Pedro Foulon de Antioquia, em 471). No Ocidente, sua introdução na Liturgia (logo após o Evangelho) se fez no século nono. Mas enquanto os latinos juntaram-lhe, mais tarde (século XI), o inciso "Filioque = e do Filho" após "que procede do Pai", que nenhum texto grego continha, os Orientais conservaram-no como os concílios o haviam promulgado, isto é, sem o "Filioqüe", professando, no entanto, a fé dos Santos Padres: que o Espírito Santo procede do Pai pelo Filho.

O símbolo de Constantinopla é uma expressão teológica da fé, de uma teologia antiga e sóbria, cujas fórmulas favorecem, verdadeiramente, a contemplação dos mistérios. Sua recitação torna-se ainda mais comovente quando é feita por todo o povo. É dele que escreveu o saudoso Papa João XXIII, em seu testamento: "Entre as diversas formas e símbolos, por intermédio dos quais a fé procura expressar-se, prefiro o Credo da Missa sacerdotal e pontifical, da mais ampla e audível elevação, em união com a Igreja universal de todos os ritos, todos os séculos, todas as regiões, deste 'Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso' até 'e a vida do mundo que há de vir"'.

Não deixemos o comodismo, a indiferença, o respeito humano ou uma falsa concepção de progresso científico e intelectual impedir-nos de confessar nossa fé. Em voz alta, juntamente com nossos irmãos em Cristo, porque esse mesmo Cristo disse: "Quem me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus; mas quem me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus" (Mt 10,31).

Simbolismo

Enquanto o povo reza o credo, o sacerdote levanta o véu maior que cobre o cálice e a patena e o agita em cima das oferendas até "e subiu ao céu". São Germano de Constantinopla diz que "o sacerdote levanta o véu descobrindo assim as oblatas para simbolizar o Anjo que revolveu a pedra que vedava a entrada do sepulcro, quando Cristo ressuscitou; e o agita para figurar o tremor de terra que houve naquela hora". Este simbolismo é mais claro nas Divinas Liturgias pontificais: o bispo inclina a cabeça em cima do altar e dois sacerdotes agitam o véu em cima dela como se fosse Cristo no túmulo. E quando o povo diz: "E ressuscitou ao terceiro dia e subiu ao céu", param de agitar o véu e o bispo levanta a cabeça figurando a ressurreição de Cristo. Outros dizem que a agitação do véu simboliza a descida do Espírito Santo no cenáculo e o vento que abalou a casa onde estavam reunidos.

Rezemos o credo de coração alegre e cheio de gratidão porque a graça da fé é um dom inestimável: "A nossa fé! Eis a vitória que vence o mundo". 

Comentários

Postagens mais visitadas